Gado Marcado
Gritos pelos quatro cantos de algum lugar, cheios de raiva e medo, são sentidos. Suas vibrações vocálicas são a derradeira chance de uma esperança passada, lobotomizada das massas. São atos sem sentido ou direção, efeitos do desespero asfixiante, loucos pela superfície e inalação de mais um fôlego antes do naufrágio inerente à condição de viga de construção. Nas escolas, rebanhos são alimentados e enfileirados para o abate, enganados por distrações mesquinhas das mentes limitadas e já arrebanhadas dos mestres.
O caminho do rebanho assemelha-se a um desfiladeiro, em meio a um deslizamento de terra. Tal força de escombros é rei e impõem respeito e autoridade, levando todos a sua frente ao soterramento de potenciais incompletos. Neste vale de destruição cognitiva, direitos confundem-se com deveres, tornando imensurável a alienação dos seres pecuário-sociais. No final das contas, cada grito e apelo transmutam-se em mugidos ruminantes. Uma vida de cabresto, pão e circo, marcados a ferro em brasa, na grande estância brasileira.