Olhos azuis.
Seus olhos eram de um azul artificial. Não como se fosse mentira. Não era. Eu sabia que não usava lentes, mas, ainda assim, toda vez que mirava aquelas íris azul-teal, me perdia. Talvez fosse azul esverdeado, ou verde azulado. Nunca soube precisar exatamente a cor e também nunca tive coragem de perguntar. Talvez, no fim de tudo, ela percebia o meu estado de torpor ao dar de frente com seus olhos. E ela sorria e estreitava-os ainda mais, fazendo-os parecer tão diminutos, mas ainda mais brilhantes. Cintilava tanto que eu sempre me via na obrigação de desviar meu olhar, com um sorriso meio-que-de-canto, com as bochechas trepidadas. Acho que essa é a única lembrança que tenho: aqueles olhos azuis-fatais - fatais para mim, pois eram inofensivos, tão inofensivos que qualquer alteração sutil de suas sobrancelhas pareciam ameaçar o choro. Ah, o choro. Vi-os sorrir, vi-os cantarolar, vi-os dizer, vi-os chorar e até hoje não sei qual acho mais lindo. Todos são, em seu total, produto da mesma obra primitiva. Talvez seja mais sensato tê-los todos como os mais lindos, já que são os mesmo. Ah, aqueles olhos azuis. Que desgraça é o inventário humano para engrandecer as memórias. Na verdade, nem lembro mais como eram os olhos azuis. Talvez fossem verdes. Ou castanhos amarelados. Mas, em contrapartida, não importa. Gosto desses olhos azuis.