CHORO
CHORO
Aos poucos, em países de primeiro mundo vão extinguindo-se nas escolas, o escrever em letra cursiva. Cá, dentro de meu peito, surge um palpitar acelerado que provoca lágrimas. Pode ser coisa de sensibilidade extrema ou, quem sabe, bobagens de uma cabeça encarquilhada e envelhecida, mas como sobreviver num mundo que para escrever, usará os dois dedões, que não fará garranchos, que não terá a mão guiada pela mãe para escrever a primeira letra, que não usará borracha para apagar uma linha mal escrita, que não escreverá um bilhetinho de amor. Não sou saudosista ou anacrônico, mas sem a mágica de traçar uma letra num pedaço de papel, abdico do viver. Como sobreviverei, sem pegar a mão de minha neta recém-nascida e conduzi-la, na beleza do primeiro a. Choro, e mancho a folha escrita que agoniza em minha “escrivaninha”.