MACHADO E A CRÔNICA
Há alguns dias o meu neto, estudante do que antes chamavam primeiro ano científico ou clássico, hoje não qual o novo apelido, fazendo um trabalho de literatura, me perguntou: "Vô, o que é uma crônica?". Fiquei embasbacado, sempre confundo artigo com crônica e resolvi esse problema catalogando tudo que escrevo como crônica. Mas precisava responder ao neto com precisão, dedi uma vasculhada e nada, aí me lembrei de um livrinho do próprio neto, um fininho da série, "Pra Aprender a Ler", nele há uma crônica do Bruxo de Cosme Velho em que ele tenta definir a crônica. O nome do texto é "O Nascimento da Crônica".
Ele diz num trecho: "Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica, mas toda a possibilidade de crer que foi coetânea das primeiras viizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dizia que não pudera comer o jantar, outra que tinha a camisa mais ensopada do que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias do dito morador. e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica".
O neto leu, pensou, riu e ao que tudo indica entendeu.