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   MINHA VELHA INFÂNCIA .

   Era a manhã de um domingo como outro qualquer. A diferença é que o dia estava nublado e preguiçoso e em princípio eu não tinha nada mais importante a fazer , a não ser ler jornal, me espreguiçar no sofá, almoçar, tirar um cochilo e esperar a hora de assistir ao futebol pela TV.
   Sem nenhuma motivação aparente (.....na verdade, sem nada para fazer.....) , resolvi dar uma olhada nas tralhas e quinquilharias que guardo no meu armário e com grande surpresa descobri um velho álbum de fotografias que imaginava já ter jogado fora ou ter se extraviado em alguma mudança ou simplesmente ter sido devorado pelas traças.
   Encontrei fotos que lembraram minha infância ou melhor, minha velha infância. Me vi vestido de terninho branco para o dia da primeira Comunhão. Cabelinho cortado bem curtinho, olhos arregalados tentando entender o porquê de tanta pompa para aquele momento que na minha imaginação de criança não fazia muito sentido, a não ser o de vestir aquela roupinha engomada, sapatos pretos lustrosos que na primeira oportunidade e sem que minha mãe soubesse estariam chutando uma bola.
   Sobre aquela fotografia lembro-me que meus pais também fizeram uma cópia e um quadro que ficou exposto na sala de visitas por vários anos. Meus pais se orgulhavam daquele momento. Eu nunca dei muita importância e hoje, revendo aquela roupa, aqueles sapatos de bico redondo e aquele cabelinho curtinho, chego a me sentir um tanto quanto ridículo.
   Remexendo naquelas velhas fotos observei outra , já bastante amarelada, em que várias pessoas da família estavam em volta de um senhor de cabelos brancos, barba comprida, olhar severo e que estava sentado todo imponente numa enorme cadeira. Era meu avô e eu, naturalmente deveria ser o que estava no colo da minha mãe.
   Naquele época eu era mais gordinho e usava uma espécie de camisola branca que ao que parece era costume da época para vestir os bebês. Interessante aquela foto. Passava a impressão de que todos obedeciam cegamente a vontade daquele senhor e observando bem, via-se no olhar das outras pessoas uma mistura de respeito e temor. Como os tempos mudam.
   Passando para outra foto, não pude evitar de dar boas risadas. Eu, talvez com uns quatro para cinco anos, estava vestido de marinheiro, inclusive com uma boina que parecia ser azul-marinho. Hoje em dia ninguém se veste de marinheiro para tirar retrato e fico imaginando, como eu ficaria se estivesse fantasiado de super-homem. Seria em escândalo.
   Já numa outra foto, provavelmente com seis anos, eu estava num velocípede (pelo menos tinha três rodas e parecia ser um velocípede) numa praça onde se viam alguns canteiros de flores. Uma jovem, de uns vinte anos mais ou menos estava bem próximo, talvez preocupada e atenta para que eu não caísse. Observei a jovem com toda a atenção. Vi claramente que não era minha mãe e talvez fosse uma das minhas tias , mas o que mais me chamou a atenção foi seu vestido. Comprido, com mangas e cobrindo quase todo o pescoço.
   Olhando aquelas velhas fotos minha imaginação voltou ao passado. Me vi brincando num enorme quintal com algumas árvores, galinhas soltas e um cachorro arisco que tentava me acompanhar. Não estava sozinho, uma outra criança, um menino que talvez fosse meu vizinho me acompanhava. Tentei me lembrar do seu nome e não consegui.
   Lembro-me que na minha infância brinquei muito, fui muito levado, quebrei uma vidraça na casa da minha madrinha, derrubei uma panela de leite fervendo que por um triz não me queimou, entre outras travessuras. Lembro-me também de ter levado uns puxões de orelha da minha mãe por ter brincado na lama e ter voltado todo sujo para dentro de casa.
   Lembro-me principalmente do meu quintal. Ali eu tinha alguns esconderijos onde guardava doces que tirava escondido de um prato que minha mãe deixava num armário na cozinha.
    Ainda de olhos fechados pude me lembrar de uma goiabeira que ficava nos fundos do quintal. Como era muito pequeno, não podia subir naquela árvore mas isso não me impedia de ficar pendurado num dos seus galhos.
   Balançava com tanta força que algumas goiabas caíam no chão e eu comia assim mesmo, sem me preocupar em lavá-las, verificar se estavam verdes ou se tinham algum bichinho. Bons tempos, principalmente porque não tinha nenhuma preocupação.
   Aliás comecei a me preocupar com alguma coisa quando chegou o meu primeiro dia de frequentar a escola. Eu tinha sete anos. Blusa branca engomada , calça curta azul-marinho, sapatos pretos de bico redondo e meias brancas.
   Se minha memória não está me traindo, minha mãe preparou um sanduíche de pão com queijo para que eu levasse como merenda, além de uma garrafa de vidro com uma espécie de mingau ralo de leite com canela.
   Naquele domingo , algumas boas lembranças trouxeram de volta minha velha infância..... 


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                .....esta crônica foi publicada originalmente em 16/04/2008 e hoje, remexendo nos meus guardados tropecei novamente  na velha fotografia.....
WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 13/04/2015
Reeditado em 13/04/2015
Código do texto: T5205742
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