RETRATO ÍNTIMO

Suas guerras, travadas com ou sem luar, têm a paz como fim. Guerras em prol da paz sugerem lema belicoso, mas não é. A mulher em questão, prima por sua paz interior.Esgota suas forças apaziguando seus anjos: os bons e os maus.

Seu exército não aprisiona seus íntimos inimigos, usa outra estratégia: tenta reconhecê-los, aceitá-los e recuperá-los.

Reconhece suas fragilidades e se assusta aos fazê-lo. Já usou açoites contra seus próprios pecados.É cristã e ardeu em culpas, como prega a religião. No momento encontra-se de bem com Deus e sabe que é arrogância se querer perfeita, quando só Ele o é. Aprendeu que o erro assumido leva ao acerto, enquanto a culpa paralisa; estanca.

Melhorou nesse aspecto; hoje como ser humano encontra-se num degrau um pouquinho acima do que esteve ontem. Até aqui, quase uma ególatra, não nego, mas sabe ir além de si.

Talvez Nietzsche tenha razão e não haja altruísmo. Talvez façamos o bem ao outro pensando no nosso próprio bem estar. Pode ser, mas na busca para conciliar seus conflitos ela estende a paz aos que a rodeiam.

É uma tecelã aprendiz. Tece afetos em versos tortos, abstratos, mas ternamente verdadeiros. Costura retalhos de tecido gastos, renovando laços de sangue ou de sonhos.Tem sempre um discurso a favor dos mais fracos, dos que sofrem, dos que são oprimidos.

Mas esse discurso não é marxista. Ela se identifica com a dor do pobre e do rico, pois o opressor, pode ser também um aflito. Ao que precisa do pão, ela o oferece e poderia oferecer bem mais, contudo é humanamente egoísta.

Aos que carecem de piedade ou conforto, ela oferece uma palavra ou um abraço. Essa mulher ama a família e os amigos. E ama como ama a si mesma, às vezes até mais, porém quando se trata de filhos amamos a nós mesmos, neles (e lá vem Nietzsche de novo).

Essa oscilação no amar o outro, é a reprodução do seu amor próprio. Algumas vezes mais, outras menos. Há dias em que não convive bem com seus próprios defeitos, quanto mais com os de outra pessoa.

A mulher que passa amou e ama muito. Sofreu dores e perdas. Chorou mortes sentidas. Viu o céu lhe levar pessoas amadas. Sentiu o mundo lhe ferir profundamente; viu a cara feia da vida (e da morte). Sua essência vestiu luto, todavia hoje conserva o melhor dos que foram em si.

Ela chorou seus desenganos e os desalentos herdados. Chorou pelas mulheres de corações partidos que lhe antecederam, assim como pranteou suas feridas.

Ainda chora por amor. Reza por seu amor , pedindo a Deus para que lhes livrem da dor e lhes guardem para partilharem juntos sonhos e vida.Ela não se envergonha de pedir pelo amor, pois quando ama ela não tem pudor.

Essa mulher, também agradece a Deus pelo que tem e teve. Em prece, tenta ser merecedora das dádivas recebidas; pede compreensão da vida

E roga por si, quando clama a Deus para que a vida continue acariciando-a através das bênçãos concedidas a sua cria única, perfeita, delicada, afetuosa e lindamente audaciosa.

Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 10/06/2007
Reeditado em 07/01/2010
Código do texto: T520551
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