TRANQÜILIDADE.
 
“Se a tranqüilidade da água permite refletir as coisas, o que não poderá a tranqüilidade da alma?”
(Chuang Tzu – filósofo chinês)
 
 
 
Estou imerso no silêncio da serra!
A impressão que dá é que tenho um filtro maravilhoso nos ouvidos e ele só deixa passar sons agradáveis, expurgando aqueles que nos tiranizam na cidade grande: buzinas, britadeiras, tiros, motores e gente  gritando para se fazer ouvir.
Ouço a voz dos pássaros, o marulho das águas cantantes, o murmúrio da ramagem tangida pelo vento e tenho, também, plena visão do céu de imaculado azul, onde algodoadas nuvens deslizam suavemente, das hortênsias em pleno desabrochar, dos roxos agapantos, das rosas multicores...
As longínquas montanhas, que ganham tons cinza-azulados, servem como pano de fundo, emoldurando todo esse cenário, que o sol ilumina fortemente e  realça ainda mais.
Aqui, o melhor a fazer é não fazer nada!
Para que desviar seu olhar, seus sentidos, e correr o risco de perder a visão do voo escarlate de um tiê? Ou  não notar que um novo ninho está sendo, amorosamente, montado pelo casal de bem-te-vis, ou que a araponga, com seu metálico canto, está bem mais próxima da casa, para alegria nossa?
Bem mais agradável é afundar na rede da varanda e acompanhar a agilíssima encenação de luta dos beija-flores disputando a primazia do uso dos bebedouros ou a profusão de pássaros que , como prazerosos comensais, banqueteiam-se nos comedouros.
São visões, cheiros e sons que, cada vez mais, se tornam raros para os habitantes das grandes metrópoles, o que lhes embota os sentidos, robotizando seu viver.
Sinceramente, se depender da minha vontade, só me vou daqui para uma ilha perdida nos confins de qualquer oceano ou para aquele buraco negro ao qual referi numa crônica anterior.
Enquanto  amadureço a ideia, apelo para os compositores Joubert de Carvalho e Olegário Mariano e vou cantando; “...eu me vingo dela, tocando viola de papo pro ar.”
 
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(dedicado a todos os que ainda guardam dentro de si o cheiro e o gosto da terra.)
NOTA – o uso do trema é proposital, para expressar a minha incompreensão  e revolta por sua exclusão.
Foto – do autor.
 
paulo rego
Enviado por paulo rego em 13/04/2015
Reeditado em 13/04/2015
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