Amor à primeira vista
Ela pegava o mesmo ônibus que ele. Todos os dias, no mesmo horário de costume, seguindo para o mesmo local de sempre. Ela estava sempre escutando alguma música. Ele também. Ela não desgrudava o olho dele, e ele não parava de se perguntar quem era ela.
– E se ela for uma psicopata? Por quê ela não para de olhar pra mim? – se questionava ele, inquieto.
Ela estudava o mesmo curso que ele, na mesma faculdade. Ele era veterano. Ela era novata. Às vezes, se deparavam um contra o outro dentro do campus. Ela o encarava com um olhar penetrante. Já ele, desviava.
Entre encontros e desencontros, ela o achou nas redes sociais. Ele se espantou com a solicitação de amizade inesperada. Com certa inocência calculada, trocaram conversas curtas e se revelaram íntimos de uma hora para outra. Ele fazia piadas. Ela bisbilhotava a vida dele. Marcaram de se encontrar na faculdade. Desta vez, propositalmente.
Se encontraram naquele mesmo ônibus de sempre, no mesmo horário de sempre, seguindo para o mesmo local de sempre. Com pequenos intervalos de completo silêncio, conversavam e interagiam. Trocavam músicas e descobriam gostos em comum. Ela não era como as outras garotas que ele conhecera até então. Apostava em seus sonhos absurdos e pretensiosos. Ele descobria qualidades dentro dela que nem mesmo ela conhecera. Ela esbanjava inocência com seu sorriso tímido e tentativas frustradas de impressioná-lo. Ele zombava dela o tempo todo.
Assim como a chuva no sertão que demora meses pra chegar, ele finalmente a chama pra sair. Desta vez, fora da faculdade. Um filme meio borrado está rolando no fundo do plano principal, mas eles não estão nem aí. O olho dela brilha em meio ao escuro do cinema, e ele não para de observá-la. O sorriso dela cativa o sorriso dele, e é um ciclo sem fim. O momento parece infinito. Ela é apaixonante demais para ele se apaixonar à primeira vista.