O QUE ACONTECE COMIGO?
Uma crônica geralmente é o resultado de algo que presenciamos ou vivenciamos em nosso cotidiano. Pode ser de diversas origens, com personagens distintos ou até sem personagens definidos. A escrita vai fluindo com maior ou menor velocidade em função do momento por que passa o escritor.
Já tive a felicidade de contar com bons momentos de inspiração onde pude escrever alguns textos cujo resultado final acredito tenha sido bom, pois acabou sendo aquilo que realmente havia imaginado no começo.
Mas este texto é o resultado da minha própria experiência, do meu dia-a-dia, de meus devaneios e, principalmente, de meus anseios.
Com o advento da Internet, algo de muito bom que acontece vem a ser a troca de mensagens entre os internautas, divulgando belos textos e poemas outrora esquecidos. Além, é claro, das páginas dedicadas à literatura, aos poetas e aos cronistas, fazendo com que uma parcela da população (pequena ainda em termos de Brasil) tenha acesso a obras especiais.
As mensagens que circulam com mais intensidade são aquelas do tipo auto-ajuda, que carregam esperanças, que mostram e propõem estilos de vida, que falam das agruras e das benesses da solidão e também do próprio viver.
Recentemente recebi uma dessas mensagens que falava sobre o chorar, sobre o ser durão com os problemas que surgem, sobre o conflito de sentimentos e sobre a necessidade de manter-se uma postura “adequada” perante os fatos da vida.
Li e reli o texto muitas vezes e cada vez que o lia, captava algo de novo que passara despercebido na leitura anterior. Até que parei e comecei a olhar para mim mesmo, para o meu interior, para a minha vida vivida até aquele momento.
E pude concluir, sem muito esforço de lembranças e raciocínios, que passei por momentos extremamente solitários sem me dar conta, assim como tive momentos muito agradáveis, talvez também sem me dar conta disso.
E chego finalmente ao motivo principal que me levou a escrever este texto.
A vida é uma sucessão de fatos e de acontecimentos previstos e não previstos. Por muito tempo vamos tocando nosso dia-a-dia da maneira que melhor entendemos, muitas vezes sem perceber o que se passa ao nosso redor, tendo atitudes inconseqüentes e pueris, caminhando apressadamente para o estresse, para o desconforto espiritual, para a solidão, para a tristeza profunda.
Os motivos para isso? Não faço afirmações, mas presumo alguns, como a competição desenfreada e os medos no campo profissional, a ambição desmedida que pode nos levar a sensações de fracasso, a tão propalada “falta de tempo” que nos impede os momentos de lazer tão necessários e até o estar com a família, o parceiro ou a parceira, os filhos...
É amigo, quando esse momento chega com toda a força e geralmente após alguns avisos que ignoramos, aí o bicho pega mesmo. É nesse momento que se precisa desesperadamente de alguém que possa ser nosso confidente, nos ouvir sem compromisso, dar um abraço gostoso e fraterno e talvez dizer: “estou aqui para caminhar com você, vamos conversar um pouco”.
É nessa hora que nos damos conta de tudo aquilo que já fizemos e já passamos no tempo que não se recupera, não se redime e não nos conforta. É nessa hora meu amigo, que vem o choro, a desilusão, o arrependimento e a tremedeira que nos ataca fisicamente. É a sensação do “estar só”, de cair numa realidade dura, mas verdadeira.
E, se por um azar maior ainda, não tivermos com quem contar para um afago, um carinho e uma conversa, o desespero acaba se instalando.
E no final de tudo, no auge de seu desencontro, ainda é capaz de surgir a pergunta:
“Afinal, o que está acontecendo comigo”?
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