Missiva de uma despedida

Norte do País, 10 de maio de 2030.

Nas ruas o caos, a terra seca, infértil, os saques constantes, corpos amontoados em meio a podridão cadavérica, a fome que a tantos de nós dizimou e lá ao final, os traços do Oceano Atlântico seco. Ao Norte do País poucos são os humanos que restaram, pois foram morrendo através da seca pela falta d’água, que ontem completou quinze anos de escassez, os que sobreviveram lutam para obterem o que comer. Cogitou-se comer a carne dos próprios semelhantes que já se foram, pois animais há muito não vemos por estas bandas. A “Floresta Amazônica” se foi e olhe que avisos não faltaram, investiram em campanhas, envolveram celebridades mundiais em propagandas e nada disso adiantou.

As cidades do Sul, Sudeste e parte do Centro- Oeste estão debaixo de muita água, alagadas pelo descongelamento das inúmeras e sólidas geleiras que o mundo possuía. Dos 200 milhões de brasileiros que tínhamos ao final da Copa de 2014 (realizada aqui no Brasil), hoje são pouco mais de um milhão, segundo dados que chegam por cartas, ainda um meio eficiente, o Brasil possui a maior população do mundo hoje. Estamos em 2030 e superamos a Índia, a China, os EUA etc. Os indianos não passam de 100 mil, dizimados pela miséria, pela doença, pela falta de saneamento, pelo calor intenso de 62 graus. Lembro-me de que em 2007 o presidente era o senhor Luís Inácio, já falecido, e que estranhou os 47 graus que fazia naquele país; a China controlou a natalidade, reduziu a comida à população e insistiu no socialismo, mesmo sabendo da eficiência do capitalismo, e sua população chegou aos 30 mil habitantes; já os EUA perdeu a “Terceira Guerra Mundial” para o Irã, a Coréia do Norte e a Rússia, que mostraram o poder bélico que possuíam. Depois da destruição do WTC, derrubaram a “Estátua da Liberdade”, mataram o Bush, aquele que governou os ianques até 2008, até que a Hilary Clinton tentou amenizar a raiva entre ocidentais americanos e orientais guiados pelo “Eixo do Mal”, agora fortalecidos pela Rússia que voltou a ser governada por um czar chamado Karpov. Os norte-americanos que restaram, migraram para o México, Cuba, mas estão sendo impedidos pelas leis que vetam a imigração ilegal. São apenas dez mil americanos.

Mas voltando ao Brasil... Ah, o Continente Africano acabou, não há mais habitantes, os poucos que haviam foram mortos pela AIDS e vários outros pela fome. A água secou.

Bem, aqui ao Norte da República Federativa do Brasil, vivemos em muitos, numa situação miserável. Perdemos casas, os aparelhos eletrônicos já não funcionam mais. Os computadores, as TVs, os rádios e celulares já não têm mais utilidade neste mundo dominado pelo caos. Comemos dia sim, dia não; apelamos para os santos na busca pelas chuvas. Os países sul-americanos acabaram. A Venezuela foi destruída pelos EUA em 2013; a Colômbia acabou depois da sua guerra civil, assim como São Sebastião do Rio de Janeiro, aqui no Brasil; o Equador foi consumido pelo calor; a Bolívia tornou-se território brasileiro depois da “Guerra do Gás: pela Petrobrás”; assim como o Paraguai e o Uruguai, que voltou a ser Cisplatina. Só que a Cisplatina foi alagada, como a Argentina, que era governada pelo ex-craque Maradona; o Chile voltou a ser regrado pelos Pinochets, pelo bisneto do antigo ditador.

Estamos lutando contra as adversidades, as mazelas, a individualidade, que ainda persiste na composição de algumas pessoas, somos consumidos pela falta de união. Não possuímos mais governantes, pois a corrupção esfacelou o Congresso, consumiu o Executivo, aniquilou a confiança do povo brasileiro que desde 2018 decidiu não votar. Quebraram a cidade de Brasília, destruíram tudo. Os sem-terra foram assolados pela ignorância, o individualismo, arruinaram-se, destruíram-se. Sabia que esse movimento era insano e surreal, favorecendo apenas seus líderes e poucos abnegados.

O samba, o futebol, as festas folclóricas sucumbiram, pois não temos tempo para mais nada , pois não temos tempo para mais nada, necessitamos de comida. Agora é cada um por si e Deus (se ele existe) para todos.

Parei de escrever em 2025 há cinco anos atrás quando junto de minha mulher e meu casal de filhos (Bernardo e Lya) saímos do Sul, devido o alagamento, e migramos para o Norte. Minha biblioteca foi tomada pelas águas, perdi todo meu acervo, cerca de dez mil títulos. Agora escrevo, tentando guardar algumas memórias do caos que instalou-se neste País e no Mundo. Até mais, pois não sabemos se amanhã viveremos.

Sérgio Augusto Sant’Anna.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 09/06/2007
Código do texto: T520432
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