AS CHAVES
Eis um problema real do mundo: as chaves. Há muitos borracheiros, mercadinhos, bares, oficinas, lojas de celulares e nenhum Chaveiro. Um profissional em extinção. As chaves também dão defeito, enferrujam, entortam e cadê o cara quando precisamos dele? Não se acha! Devia-se ter um curso nas faculdades especificamente para esse fim. Haverá o dia em que você também precisará abrir aquela porta emperrada, tirar a cópia para o cônjuge, trocá-las por mais novas e quando não achá-los me dará razão. Palmas para os chaveiros porque entendem as chaves.
Gostamos de encher nossas chaves de utilidades: a minha abre cerveja, comunica meu gosto musical, corta minhas unhas enfim chaves são uma expressão de nós. Nunca saímos sem elas. Com as chaves vem as responsabilidades. Na minha geração você sabia que havia crescido aos olhos da família quando tinha sua própria chave. Hoje os tempos são outros, corridos, agitados. Temos trabalhos, estudos, academia, autoescola, especialização mestrado etc. Cada membro da casa tem de ter uma. É da vida. Acho engraçado que mesmo com tantas chaves quando toca a campainha procura a bendita? Ninguém a acha. Por isso guardo minha chave a sete chaves. Não posso perder nenhuma.
Tenho certeza que as chaves tem espírito feminino: são esquivas, aparecem quando querem, são preciosas, poderosas. Em muitos casos se enfeitam de cores, brincos e colares. Sem elas há um vazio inexplicável na existência. Mulheres e chaves, talvez essa seja a receita.
Impossibilitado de entrar em casa fiquei pensando: como diabos o Chaveiro em duas viradas, uma cafungada aqui e ali voilá: portão aberto. A mágica acontece! Pareceu tão simples que me senti um idiota. E quando entrei em casa descobri que haviam roubado tudo; até pro ladrão foi mais fácil entrar na minha casa do que eu. Mas eu to feliz nessa relação. Quem precisa de geladeira, fogão, TV quando se senta no chão nu da sala e percebe que neste tempo todo as chaves estavam no bolso da calça?!