O Melhor sonho da minha vida

Divagando entre imagens diluídas me vi numa praia paradisíaca, não sei como parei ali, mas o lugar era realmente lindo. Observando mas atentamente, notei que essa praia estava extremamente vazia, e no meio da praia havia uma mulher sentada, estava um pouco longe, resolvi me aproximar... Ao caminhar pude sentir o acolhimento das areias aos meus pés, a brisa litorânea acariciar meu rosto e a calmaria proveniente das matas que cercavam a praia. Ao me aproximar da mulher, era visível que ela estava muito concentrada.

Sentada na areia, a misteriosa figura segurava um graveto, com o qual escrevia algo, quando resolvi me comunicar com ela, subitamente me olhou... Seu rosto era expressivo, seu olhar escondia alguns mistérios, mas seu sorriso era irradiante... Em poucos instantes, ela se levantou e falou:

- “Bem sei que tendes muitas inquietações: há um mês de maio na vossa memória, e um campo em flor, e um arroio que cantava numas pedrinhas, e depois muitas, muitas cidades grandiosas e indiferentes, e teatros acessos, ramos de flores, ceias, risos, vozes, adereços de turquesa, - bem sei, bem sei. Bem sei que tudo isso ficou a mais de quinhentos metros, e ainda de longe continua a sofre”.

Por um instante pensei que ela fosse louca, mas suas palavras foram diretamente ao encontro de minha alma, e mesmo não entendendo tudo, algo em mim se identificou perfeitamente com suas palavras.

- Onde estamos? Perguntei.

- “Ilha do Nanja”. Respondeu ela prontamente.

- Mas nunca ouvi falar nessa ilha, onde se localiza?

- “[...] a ilha do Nanja, uma ilha que não se vê no mapa, mas que descansa tranqüilamente no meio do oceano, do vasto oceano das solidões”. E ela olhou profundamente o mar. E após alguns longos minutos não me contive e disse:

- Mas não entendo...

E ela responde:

- “É muito difícil explica-la, pois certamente ela é o que não é; sua beleza não está no que se vê, nem sua riqueza depende do que suas terras e águas possam produzir”.

E nesse momento, sentir uma amarga dúvida pairar sobre mim:

- Mas o que você faz aqui, no meio do nada?

Ela vagarosamente me olhou e disse:

- “Hoje eu queria apenas ver uma flor abrir-se, desmanchar-se, viver sua existência autêntica, integral, do nascimento à morte, muito breve, sem borboleta nem abelha de permeio”.

Eu não conseguia compreende-la, mas algo em sua loucura era belo, era poético... E falei:

- Sim! Compreendo...

Novamente tive uma estranha sensação, como se novamente meus pensamentos se diluíssem e nesse momento, olhei para a inscrição que aquela mulher havia feito na areia, nela dizia:

“Aqui está minha vida - esta areia tão clara

com desenhos de andar dedicados ao vento.

Aqui está minha voz - esta concha vazia,

sombra de som curtindo o seu próprio lamento.

Aqui está minha dor - este coral quebrado,

sobrevivendo ao seu patético momento.

Aqui está minha herança - este mar solitário,

que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.”

E pude ver sua assinatura, que indicava que era Cecília Meireles quem havia escrito...

Rapidamente olhei para ela e sorri e ela retribuiu...

Em poucos segundos, eu percebi que estava diante da grandiosa Cecília Meireles (Pois seu rosto se parecia muito com as fotos da internet)... Nesse momento tudo ficou muito confuso e subitamente acordei...

Levei um tempo para entender o que me havia acontecido...

Após alguns segundos e, quase que inevitavelmente, pensei:

- Foi o melhor sonho da minha vida!

Rascunho de Poeta
Enviado por Rascunho de Poeta em 09/06/2007
Código do texto: T520180
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