O homem nu
O homem nu não ignorava constrangimentos, calça Lee Americana e nem ensopadinho com chuchu.
O homem nu não morava na zona norte, nem na zona sul, muito menos frequentava a zona; não dava bola para meretrizes.
O homem nu não tinha parentes, contraparentes, aderentes, agregados, nem usava Emplastro Sabiá.
O homem nu não tinha estafeta, não digitava com dois dedos e nem gostava do cheirinho de álcool exalado do mimeógrafo.
O homem nu não era para ser nu, mas pátria amada, Brasil Nunca Mais, quem mandou botar o Urutu na rua?
O homem nu não tinha um guarda – roupa sortido de ternos bem talhados, gravatas italianas e alguns pares de sapato de cromo alemão.
O homem nu não saía de casa sem capa de chuva quando não havia chuva, nem quando havia.
O homem nu não era réu confesso, apesar de suspeito da sua própria execução e do agravante pela ocultação do próprio cadáver.
O homem nu queria ver o diabo, mas não queria ver Eva, aquela churrasqueira terrível que faturou em cima da sua costela subtraída.
O homem nu não era indagações de pura obviedade, afogadas em taças de vinho barato e entulhadas por um sem número de sanduíches de mortadela.
O homem nu não era hipocondríaco, não tinha uma saúde de ferro, nem era parâmetro para o senso comum.
O homem nu não era a revelação de um inconsciente inquerido, muito menos passeio de genitália mais tarde naquela pracinha daquele bairro daquela cidade.
O homem nu, antes não era homem, era nu. Daí, virou homem. Homem nu.
O homem nu disse certa feita, pela boca do saudoso Ulisses Guimarães, que INDEFENSÁVEL mesmo era ele ser flagrado completamente nu, porque “De meias, eu explico!” – (Grifo Nosso)