Desespero passageiro
O horário do "relógio de ponto" daqui da empresa está adiantado três minutos em relação ao relógio de meu celular. Ou será que o meu relógio está atrasado? Não, acho que não. O horário da maioria dos relógios, quando pergunto as horas às pessoas ou quando olho em algum outro relógio que não seja o meu, coincide com o horário de meu celular. Mas... e se todos esses relógios estiverem atrasados também? O que fazer? Qual a saída? Em que relógio confiar? Ou não devo confiar em nenhum relógio e passar a me guiar pelo sol, lua e estrelas? Não sei fazer isso. Pensando nisso tudo, me ponho a pensar em outras questões: quanto tempo já perdi, então? Quantas coisas deixei de fazer, quantas coisas deixei por terminar, quantos momentos não aproveitei como poderia/deveria? Quantas coisas não fiz por estar fazendo outras em determinado horário? Perdi segundos, horas, minutos. E se perdi dias? E se perdi semanas? Deus, e se perdi anos? Quantos anos? Que idade eu tenho, na verdade? Em que ano, em que década, em que século, estamos? Sinto-me desesperado e enganado. Se não posso confiar nos relógios, não posso confiar nas pessoas, afinal, elas são movidas pelo tempo também. Se não posso confiar nas pessoas, não posso confiar em seus serviços. Se não posso confiar em seus serviços, não posso confiar no que produzem. Se não posso confiar no que produzem, não posso confiar na comida que como, na roupa que visto, na casa que moro, no transposte que utilizo, nas ruas que ando, nos óculos que uso, neste teclado que estou utilizando para escrever, nesta mesa que apoia este computador, neste computador, no ar condicionado, nos sapatos, na música que ouço.Ei, o tempo move a realidade, o tempo move o mundo. Não posso confiar na realidade, não posso confiar no mundo. Que me resta da vida? Não há razão na vida, é tudo uma grande farsa.
(Olho o relógio)
Opa, chegou o fim do expediente, hora de ir pra casa. Dia cansativo, ai ai. A vida é bela. Quem me dera que todos os dias, em um estalar de dedos, fosse 18h. Amanhã tudo recomeça, mas, o relógio é um amigão em alguns momentos.