VIVENDO O MOMENTO

Se existe uma afirmação, que sempre que ouço, meu nariz se torce autonomamente, é essa de que "temos é que viver o momento". Acho-a vulgar demais; banal demais; supérflua demais; abdicadora demais, através da qual as pessoas lavam as mãos de toda irresponsabilidade que cometem em sua assumida inconsequência.

Sei que muitas pessoas pensam assim. Ou pelo menos dizem pensar assim. Que vivem o hoje. Que não pensam no amanhã, que não vivem se preocupando com o que vai acontecer, etc. etc. Bobagem... Pura e simples forma de abdicar de tudo que é atitude impensada.

Inicialmente acho essa afirmação extremamente juvenil, para não dizer infantil. Volto a pedir antecipadas desculpas às pessoas que vivem a mencionar e repetir isso. Chego, contudo, a acreditar que tais pessoas dizem o que na realidade, lá na sua intimidade, não pensam. Podem até pensar sim, mas “de caso pensado”. Jogando verde, comendo o maduro plantado pelos outros e jogando as sementes ao léu para ver de pega. Vai que pega...

Talvez usem tal expressão, como um clichê emblemado em seu cotidiano. Talvez por entenderem seja moderno, seja elegante, ou coisa do gênero. Não acredito, definitivamente, que um ser humano, integrado ao mundo e a sua realidade, que seja racionalmente inteligente consiga levar a vida sem sonhos, sem projetos, sem ambição, sem objetivos a serem atingidos. Em suma, sem pensar no amanhã.

Não consigo nem mesmo ponderar sobre a possibilidade de qualquer viver somente o hoje, somente o momento, se tudo que o saber nos ensina, mostra-nos e nos comprova, é que os valores do viver, a graça da vida, o privilégio de estarmos vivos, é buscar o sucesso em todos os segmentos, em todos os aspectos da nossa vida. Se a sina da vida é a busca da felicidade, como alguém pode dizer que “tô nem aí” para a felicidade ou que pode conseguir a felicidade também no fracasso, no arrependimento ou na simples admissão da inércia.

Seja no aspecto afetivo, no profissional, no familiar, espiritual, até mesmo no material, que resguardadas as pretensões e comedida no limite da ambição saudável, precisamos sim pensar no amanhã. Faz parte dos instintos de sobrevivência. Mantermo-nos vivos e continuar vivos, suprindo nossas necessidades e gradativamente melhor.

Tudo bem. Vivo de nariz torcido... E não acredito mais em Papai Noel. Ou sim. Já nessa história de que “vivo somente o momento”, com certeza não acredito, principalmente para quem “tem mais de 30 anos”.