MESTRE ZEN.
Um renomado Mestre Zen dizia que seu maior ensinamento era: “Buda é sua mente”.
Impressionado com esta sinalização um monge iniciante sobre ela meditou vinte anos solitário em local ermo.
Um dia encontrou outro aluno e perguntou qual o maior princípio que tinha ensinado o mesmo mestre, e ouviu: “O mestre foi claro, ensinou que Buda não é sua mente”.
Está posta a relativização que merece atenção, nada é absoluto. Buda é sua mente que não é só sua mente, mas outras mentes que se tornaram nutriz de sua mente.
Esse mesmo Mestre que seria contraditório sonhou que era uma borboleta. O sonho foi tão real que acordou pensativo: “Sou um homem que sonhava ser uma borboleta ou sou uma borboleta que agora sonha ser um homem”.
Quem somos na realidade, nossos desejos, nossas bondades, nossos defeitos ou um pouco de cada valor no universo do desvalor? Ou nada conhecemos do que somos?
Só a atenção dirigida estabelece algumas certezas.
Após muitos anos de treinamento e meditação o aluno foi visitar um outro famoso Mestre, Nan-In. Ao entrar no mosteiro o mestre o recebeu com uma simples questão: “Você deixou seus tamancos e o chapéu na porta? Sim, respondeu.
E colocou o chapéu na direita da porta e o tamanco na esquerda? Não soube responder e conscientizou-se que não tinha alcançado a plena atenção.
A ATENÇÃO É SOBERANA EM NOSSAS VIDAS.
É essa atenção, melhor, sua reeducação, onde se assenta o motor da meditação que nos faz perceber nossa própria vida e seu curso, nossa existência, como reagimos, como convivemos, nossa conduta, o amor que dispensamos, o quanto sofremos ou somos felizes.
Isso é tão sombrio para nós por vezes, a desatenção com nós mesmos, que não nos perdoamos por não percebermos por falta da atenção como o mundo gira na realidade na concentração pessoal polarizada no “eu mesmo” de muitos, desatentos para o “tudo de todos”, o que seja a realidade de muitos que a desatenção não absorve, alvitra, não destaca pela atenção maior, aguda.
Outros percebem em nossos atos e impulsos como existimos sendo pessoas em todos os sentidos legítimos emocionais e as vezes não percebemos um mundo que não é nosso, é dos outros.
Essa atenção em cultivar nossos estímulos de forma equilibrada - o que independente de fazer ou não outros serem felizes, já seria importante como gravitação de um mundo de que somos parte – é que deve fazer a bússola de nossa vida, o leme da nau que enfrenta as procelas e delas sai altaneira e soberana, sem naufragar.
É preciso prestar atenção no mundo, nas gentes, na realidade, na beleza da natureza, mas só se vê esse cenário se somos vigilantes com nossa atenção.
Essa atenção da mente é sutil. Um jovem desafiou um Mestre Zen de grande capacidade com arco e flecha para fazer como ele, e disparou uma seta certeira no alvo, e outra que dividiu ao meio a primeira flecha. E arrogantemente disse ao mestre para tentar o mesmo. O Mestre pegou o rapaz pela mão e subiu uma montanha, e lá, do meio de uma ponte frágil sobre a qual caminhou sobre profundo abismo, o Mestre esticou seu arco e acertou ao longe com flechada perfeita um galho de árvore arrancando-o. E disse ao jovem: tente fazer o mesmo. O rapaz não teve coragem de caminhar sobre a ponte até onde estava o Mestre e de lá acertar um alvo.
Disse o Mestre: Você tem muita perícia com o arco, mas pouco equilíbrio com a mente, que deve nos deixar relaxado para mirar o alvo.
Impõe-se atenção para termos equilíbrio com o alvo de nossas vidas. É preciso estar atento, vigilante. Um leitor de almas desconhece lacres de espaços intimistas e pode ser surpreendido pela surpresa. Ninguém é onisciente. O ponderável e o imponderável configuram séquitos desconhecidos.