CRÍTICA.
Forma-se esse mês sob o nome de Juiz Moro, paraninfo escolhido, uma turma de setenta engenheiros que sob a orientação de um dos melhores peritos judiciais brasileiros, concluirá o curso de perícia judicial no Rio de Janeiro, nessa competência, engenharia. Convidado farei palestra alongada e abrangente sobre a atividade pericial fechando o seminário. Será uma aula crítica.
Uma perícia crítica é hoje o fio da navalha no Brasil e poucos sabem o que ocorre. Eles conhecerão o que seja a força do direito, se aplicado, hiato brasileiro, e a intensidade de um juiz de circustâncias, o juiz do fato que é o perito nomeado pelo magistrado,ou um juiz em tribunal administrativo.
O mundo é crítico, a humanidade avança pela crítica, e ela pode ser feita em amplitude inimaginável. Principalmente com nós mesmos. É angularidade de vital importância para nossa atuação no mundo de forma material e espiritual. Nosso motor, o motor social.
A crítica é o valor pensante mais alto da dogmática, faz construir o sadio pensamento, tem origem e é egressa da nobreza de caráter, ou não.
Kant mudou o mundo; pela crítica. Sem ele e a nova filosofia, “Crítica da Razão Pura”, seríamos socráticos, aristotélicos e platônicos, para só ficar na tríade maior dos clássicos.
Pensar, “pensar a idéia”, notáveis e novos caminhos, “pensar Deus” e a liberdade, esta que tanto influenciou politicamente a humanidade.
Fazer crítica é se posicionar, se convencer, deitar à discussão o debate construtivista, ou a alternativa será a estagnação no estamento cerebral, sucumbir. Mas posicionar-se razoavelmente dentro dos padrões aceitos e firmados.
A crítica é elogio e reprovação, formais ou não. A crítica não leva consigo destruição, mas construção. Mesmo reprovando indica o caminho havendo autoridade para tanto, ou elogiando e direcionando mesmo dentro do elogio, redirecionando. É processo científico complexo.
Ninguém mais crítico que Sócrates criador da maiêutica, conteúdo máximo da expressão da verdade na investigação filosófica, independente do objeto, público ou pessoal. Encontro da consciência dialética com a verdade, de difícil interlocução por ter origem na verdade interior primeiramente.
Antes da maiêutica operar certezas universais, temos de ser verdadeiros com a realidade existencial nossa para perquirir o mundo, nos centrarmos nessa evolução de ambientação da “paideia”, escola grega que estimulava o questionamento do que estava posto, para quem está aprendendo colocar também suas ideias, sem intimidação, de modo a mudar e avançar. Assim se avançou sob essa lente que movimenta o processo, a crítica.
A maiêutica é dialética dogmática de interlocução-interrogativa multiplicada.
Com sentimentos como orgulho e humildade, valores como inverdade e verdade, por exemplo, contrafeitos que são, pode ser exercitada a maiêutica, na busca de identificar realidades objetivas pessoais ou que cometem coletividades.
Na multiplicação de indagações para um interlocutor, extrairemos suas verdades contrapostas ao que não seja real.
Crenças de uns são descrenças de outros, sempre existirão motivos, reais ou não, diante do assentado pela crítica em evolução aceita.
Maiêutica é a verdade de um humilde, que contrariando o orgulho, vivia de esmolas e alijou a soberba, coisa para poucos; Sócrates.
A maiêutica deságua em axiomas intransponíveis, verdades universais que são seu objetivo primeiro. Verdades maiêuticas não têm conceito de convicções distorcidas, não são opiniosas no leito da minha verdade, a verdade de terceiro e a verdade verdadeira, absoluta. A verdade universal a maiêutica revela a quem pode achar seu interior forrado de lei moral, sem perder a identidade.
A irrealidade traz conhecimento? A maiêutica, como dizia Sócrates, era “o parto espiritual”, o que referia por ser sua mãe parteira.
Evitando polêmicas, construiu o método dialético, quando se tratava de um opositor ou de um aluno a ilustrar, instruir.
Conduzia-se humildemente como quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o objeto exposto em sua realidade.
Nominou este seguimento dialético de maiêutica ou “sofisticada-obstetrícia” do espírito, que trazia o parto das ideias.
A introspecção é o grande caminho que nos leva ao “conhece-te a ti mesmo”, ou seja, “ torna-te consciente de tua ignorância”, processo crítico, ápice da sabedoria mediana, finalidade maior da ciência mediante a virtude, independente do parto de extrair de alguém suas realidades e a realidade do mundo perceptível
Era a aura do sábio personificada na voz interior divina do gênio ou demônio.
Devemos a seus dois discípulos maiores, Xenofonte e Platão, essas iluminações, Xenofonte, nos trazendo “Anábase, em seus Ditos Memoráveis”, discurso moral da doutrina do mestre.
Platão, filósofo gigante ao extremo, nos reporta real retrato histórico de Sócrates; é difícil distinguir a linha socrática das especulações críticas acrescentadas por ele. Mas foi o historiador do pensamento de Sócrates.
"Conhece-te a ti mesmo" – a máxima em que Sócrates sustenta toda sua jornada da vida de sábio, absorve de forma singular a maiêutica.
Sócrates emitiu frases de homem sábio, que se conservaram na memória de todos, inclusive do povo, como:
- Quantas coisas das quais não tenho necessidade! Dizia quando no mercado vendo objetos, nos remetendo à voracidade capitalista e ao consumismo, ou e melhor para todos meditarem, principalmente os políticos:
- “A prata e a púrpura são úteis para o teatro, porém inúteis para a vida"
Quantos fazem da vida um teatro e pensam usufruir de prata e púrpura, ou seja, riqueza e poder, quando elas estão na realidade, no nosso interior, no “Conhece-te a ti mesmo”, longe da irrealidade.
Sob esse aspecto, sociedade capitalista-consumista, é bom que se coloque como quer a filosofia coisas simples, para meditação interrogativa, como: Quando compramos o que não usamos ou precisamos, a demasia ou o supérfluo, estamos comprando necessidade ou desejo? Quando não olhamos nosso umbigo e caminhamos olhando o umbigo dos outros, que vida vivemos, a nossa?
O processo crítico é de grande ajuda para clarear o caminho.