Um reativo sem querer.

Sempre quis ficar quieto no meu canto, mas a maldita mania de ser reativo me jogou várias vezes contra a parede, e creio ser da minha natureza. Ver as coisas que doem e não conseguir me aquietar, respondendo , e as vezes com rudeza. Posso ser a pessoa mais amável do mundo, mas também posso me transformar num revolucionário em cinco minutos.

Queria estar na minha paz, nunca quis que mexessem comigo , nem para me tirar os piolhos, se os tivesse é claro , rsrs...mas não permitem , e lá vão me importunar, me tirar da minha concentração.

Notei esta tendência logo aos sete anos, quando brincava na calçada com o Joaquim, menino da mesma idade, e brigavamos por qualquer bobagem, coisa que não se pode considerar, de criança, mas a mãe desse meu amiguinho estava por perto, e me pegou pelo braço e me chacoalhou enquanto proferia seus verbos mais simpáticos, porém para o seu espanto, eu reagi , e contra uma senhora , uma pessoa mais velha, onde todos os respeitos caberiam, ou deveriam caber, até pelos princípios da época. A xinguei ;- "Largue meu braço sua...". Não sei de onde saiu isso, meus pais sempre me educaram com muito rigor... Sei que a mulher, ( que era uma besta), foi falar com a minha mãe , que já conhecia a fulana desde a infância , e sabia que não era boa bisca, e a ouviu atentamente, ficando muito indignada comigo. Do meu irmão podia esperar de tudo, pois ele brigava sempre na rua,mas de mim ( ?), nunca brigava com ninguém... , que teria acontecido ? Quando a dona foi embora, pensei que fosse apanhar, mas só levei um pito, daqueles "bem pitados...",de deixar a orelha queimando. O que me salvou foi que a minha mãe entendeu que a mulher havia abusado no trato comigo, e de fato havia.

No colégio um certo professor de inglês , (e logo inglês que tenho uma baita dificuldade), chegou apressado e disse; -" amanhã vocês terão prova, de uma matéria nova que darei agora" . Putz...! E foi projetando a lição com aquela maquininha de projetar na tela,... e na parede , e pelo canto da sala, e no teto...e ninguém conseguia entender , e nem anotar coisa alguma, e perguntavamos a todo instante o que estava escrito ali, e aqui...uma coisa absurda! Quero lembrar que nós estudavamos a noite, porque trabalhavamos durante o dia, e nem teriamos como estudar para o dia seguinte, e muito menos uma matéria passada daquela forma, com tamanha insensibilidade, práticamente jogada. Eu era muito bom aluno, tínha ótimas notas, e só patinava em inglês, e já podem imaginar o que estava sentindo vendo aquilo.

No dia da prova, me levantei e disse para os colegas que não deveriamos aceitar aquilo, recolhi as provas, e as coloquei sobre a mesa do professor. _ "Se tiver que dar zero, que seja para toda a classe". Ele nos ofendeu, e saiu indignado da sala. Passado quinze minutos, veio o diretor, e eu me levantei assumindo a ação, e expliquei o que havia ocorrido, e o motivo da nossa revolta. Conclusão ; O professor foi demitido , e substituido por alguém bem mais coerente. Provavelmente ele já deveria estar na "marca do pênalti",pois não creio que eu tivesse esse poder, era apenas um aluno ,apesar de saber ser respeitado por todos os professores. Sem querer me tornei uma espécie de lider naquele ano, o que nunca quis, e nem pretendi, só queria minha paz. As pessoas sempre me disseram; " Você é tão calmo..." , sem ao menos imaginar o meu lado "Hulk ".

Na faculdade fui representante de classe por três anos, eleito contra a minha vontade, pois a maior parte da classe é de garotas, e elas procuravam empurrar a missão a um dos poucos rapazes, e foi lá pelo sétimo semestre que também me vi em uma situação complicada, e eu não queria isso, nunca quis, não tinha tempo, isso me atrapalhava demais, mas a maldita mania de reagir, novamente me jogou "no rolo". Certa vez o reitor entrou para bronquear com a sala, e me pareceu injusto, pois ele não sabia o fato por inteiro, nós estavamos tendo seguidas faltas dos professores,e já corria o mês de março, e isto andava prejudicando o andamento da turma. Ele não parava de esbravejar, e a classe no silêncio dos "inocentes", até que me levantei por impulso, porque aquilo estava me enervando, e disse alto - " Cale-se , o senhor está errado, não sabe da missa a metade "!. A surpresa foi tanta que o homem se calou, e ficou me encarando por segundos...e a classe toda também...Então, com a voz mais calma, ele disse; " Escolha três colegas, e venham na minha sala amanhã, às 20; 30 h, quero saber a outra metade da missa. Tudo foi esclarecido. Nos tornamos muito amigos, ele passou a me querer bem, teve respeito , e eu por ele. Naquele ano, que já era o último, enfraqueci com uma estafa monstro, transpirava demais, perdia peso, e sentia tonturas e vertigens, estava ficando preocupado. A minha vida era dura, pois trabalhava na montadora , era casado e já tinha três filhos, e o objetivo de ter um emprego melhor, para suprir a familia com um pouco de conforto. Acabei faltando três semanas do ano letivo, no mês de maio , ainda me lembro, e quis largar tudo, já não aguentava mais ... Esse reitor não permitiu e me restituiu as provas, me deu a mão , o apóio e o incentivo moral, e com o tratamento médico, fui me levantando aos poucos.

São histórias da minha vida, que deixo aqui, numa espécie de diário de bordo, vistas do meu prisma, e que marcaram ,mas que também fizeram tudo valer a pena.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 06/04/2015
Reeditado em 07/04/2015
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