Macarrão ao Molho de Tomate
Na volta pra casa, Fome me chama pra conversar: está com uma vontade tremenda de comer uma massa ao molho de tomates. Que danada! Foi só ela falar, me deu vontade também. Para evitar atritos prometo um macarrão do jeitinho que ela quer. Fome é superamiga nestas horas e me lembra: não temos tomates em casa, viu? Qual é o problema? Nenhum, pois estamos a dois passos do paraíso: o Mercadinho da Denise. É para lá que vamos, em busca de tomates suculentos e vermelhinhos.
O Mercadinho da Denise é pequenininho, mas tem tudo que alguém pode querer. E como nesse momento, Fome e eu estamos querendo tomates, vamos a eles! Já com os frutos do tomateiro nas mãos é hora de passar no caixa. Quem registra as compras, cobra e volta troco é a Denise em pessoa. E faz tudo isso praticando seu esporte preferido: conversando. Dali sempre se sai com um conhecimento a mais: como aprender a fazer doce de figo sem ter que raspar a fruta, curiosidades de Uberlândia — Denise é de lá — ou mesmo como fazer uma criança dormir a noite inteira.
Pois bem, o tema de hoje no Mercadinho é cirurgia Bariátrica. Denise conversa animadamente com uma moça morena de cabelos cacheados que segura nas mãos uma imensa sacola com inhames — inclusive, ela já alertou a todos no recinto que o inhame é excelente contra dengue. Pois é, descubro que as duas estão participando de um programa de reeducação alimentar. E neste momento, como é natural, as guerreiras abominam qualquer coisa que diga respeito a métodos cirúrgicos para redução de estômago. Denise aproveita e conta o que aprendeu num programa de tevê: aqui no Brasil fazem a Bariátrica à toa demais! E como explicaram lá, essa cirurgia deve ser o último recurso e não uma simples vontade do paciente para ficar mais bonitinho.
A moça morena cita alguém que cometeu suicídio após a cirurgia para reduzir o estômago. Neste ponto, pulo pra roda sem ser convidada e lhe pergunto: “Não estava com acompanhamento psicológico?”. A morena me inclui no grupo de conversa e completa: “Não quis fazer, Marina”. Marina? Uai, a moça me conhece de onde? "Marina, eu vi que cê não lembrou de mim... Eu sou a Elis, a Elizângela, irmã daquela sua vizinha, lá da sua antiga casa, não lembra?".
Lembro! Eu lembro sim! Mas como é que ia reconhecê-la se naquele tempo ela era só uma garota e o tempo muda radicalmente os mais jovens? Estou desculpada! Aliás, isso explica o fenômeno dos duzentos mil “ois” que escuto na rua todos os dias, dos quais, apenas dois consigo identificar corretamente. Estou ficando velha, eu sei. O pior é quando cismam que “você me viu e nem fez conta”.
Elis-Elizângela se vai, levando, é claro, um abraço pra minha antiga vizinha. Denise, por fim, registra minha compra. Vou pra casa com meus tomates vermelhinhos e suculentos. Tento reatar os laços com Fome. Mas ela não me responde. Ih, demoramos tanto no Mercadinho que eu acho que minha amiga emburrou. Tem nada não, isso passa, e mais tarde eu a convido para o macarrão. Tenho certeza de que ela vem correndo...