Eu já não sei se eu tô misturando...

Quando a cigana Dinorá me falou, foi como um déjà vu.

Eu de já vi!

Ela me contou sobre o que viu; ouvi. Sobre chorar. Sobre cair. Sobre Caim...

Eu abestalhado, me esqueci de não acreditar. Bullshit!

Então jogou 69 búzios. Logo disquei o DDD 69. Levei sessenta e nove meses para aprender a me esconder do meu amor, a esconder o meu amor entre as minhas 69 personalidades.

Disse-me que Élen não me terás mais. Que eu não estava no plano de Estefanir, no Plano Piloto, nem no planalto central. Inútil dormir, que a dor não passa. Fumaça, fumaça, fumaça. Eu disse pra ela que faxina não era com ch. Deus é bom, o diabo é xujo. Que antes dos trinta eu não me casasse. Que eu ia ser reconhecido como artista; que eu deveria seguir as pistas; e nunca mais dar uma estrela a ninguém. Que eu deveria pagar o preço... mas eu não quero pagar!

Já faz uma semana que ligo, mas a cigana Dinorá não atende, não retorna, não liga.

Não estou dizendo que acredito nisso. Mas não é só curiosidade...

As vezes acho que sou o único cara que ainda usa orelhão...

Não me sai da cabeça o modo como ela me disse que a inveja é traiçoeira, mas é previsível; que eu me preocupasse com a vaidade. Pois Caim matou Abel não porque era invejoso, mas porque era mais forte. Era natural. Era a natureza. Perturbante. Real.

Mas, satanás era invejoso porque era fraco. Fraco por natureza...

Entre uma xícara de chá e outra, me falava, sobre os vícios, sobre as virtudes. Sobre a juventude... Dinorá já não era tão jovem, já não era tão bonita quanto nas fotos.

Conheci Dinorá nessas voltas que o mundo dá. Num luau na ilha de Mosqueiro. Mulher baixinha dos cabelos pretos, sorriso amarelo e olhar de respeito; olhar de agulha no palheiro. E são tantas agulhas no palheiro que me senti procurando a palha no agulheiro.

Cada um dá o que tem. Eu não dou amor pra ninguém. Já faz um ano que terminei com a Daiane, e pra Suélen nunca mais liguei.

Dinorá parecia saber de tudo um pouco, não saber de nada; não saber nadar.

Ela falava de mim como se me conhecesse, como se fosse possível, como se ali, de frente pro crime, ela me lesse no seu smartphone.

Disse que é fácil se iludir comigo, pois sou feito um livro, lindo, recheado de páginas em branco. Sorrio e aceno, apronto e ponto.

Mas que merda, mais que merda... e eu tentando argumentar com aquela velha, velha, velha; minha opinião sobre a opinião da velha.

Tenho 27 anos , falo 3 línguas, sou sensível e como, direito, eu faço; pirraça, tomo, no jeito. Puto!

Meu nome é caralho, Zé Pequeno da porra. Pedrinho. Rafael. Lúcio. Henrique. Rachid. Foda-se. Aliás, dane-se o mundo, não me chamo Raimundo.

A-há! Take on me. Take me on!

Revelação... também escuto pagode, oh, shit!

Voltando ao assunto, estou bebendo porque a puta da Dinorá me pragou, me disse que minha mulher me trocaria por outra. Por isso eu peço outra, outra, outra. Outra. Outra...

O copo está meio cheio, meio vazio; mesmo cheio, vazio.

Meu coração está sem freio a mais de mil. Só quero que o dia termine bem.

Namastê, foda-se o sistema! Diz a pichação.

A incongruência não me repele. A saudade me apetece. O ódio, às vezes, me faz melhor.

Não sou branco, ufa, droga, nem preto. Estou pardo, estou farto. Maluco da cabeça. Cabreiro. Cabreiras! Marcianos me mordam.

Bandeira branca, cercas brancas, dentes brancos, isso não vai dar certo!

Quando a gordura começa a ferver, ou você frita ou torra. Bacon é vida...

Aqui na Terra, ou é bosta ou é sangue.

Respeito as calças de veludo, respeito as bundas de fora. São séculos e séculos e séculos.

Na face da Terra, no Face, na terra, a vida e a morte rumando pro norte. É frio, é quente, gelada, dormente. Demência. Prudência. Uma cachaça de rolha... e olhar esquecido... eu corro, corro, corro, piro. Puro. Incomum... eu já não sei se eu tô misturando.

O trigo e o milho é uma questão de segurança nacional. I’m the frontman. Pensando comigo.

O que? Eu? Como?

O que eu como, quem eu como, como eu como, é o futuro da humanidade que está em jogo.

Eu não comi a Dinorá, meu primo não comeu, o Teló não comeu. Resumindo, Dinorá é boa de histórias mas tem os peitos pequenos e as pernas curtas. Mulher sem razão. Não como velhas mentiras. Mentirosas. Senhora, serpente.

Esse papo já tá qualquer coisa, qualquer koisa...

Entre mentiras e rosas. Entre confissões. Entre as curvas da estrada. Entre paixões. Que nada! Entre holofotes. Entre verdades. Entre de montão. Saia solidão. Minissaia. Entre a escuridão do quarto. Cala a boca, Miúcha. Tenho que lavar a louça!

Drachir
Enviado por Drachir em 04/04/2015
Reeditado em 04/04/2015
Código do texto: T5195052
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