O Ovo e a Páscoa
A Páscoa está chegando, e mais uma vez os ovos de chocolate são tratados como afastadores do verdadeiro significado da Páscoa. É que aprendemos que o ovo foi inserido no significado da Páscoa por simbolizar o renascimento, devido à ressurreição de Cristo. Mas o fato é que o ovo como símbolo da vida nova já existia há milhares de anos antes de Cristo. Na verdade, muitos povos antigos do oriente compartilhavam um gênesis de que nosso universo surgiu de um grande ovo cósmico primordial, dando origem a todas as coisas. O ovo cósmico, esse óvulo cósmico em que foram geradas e paridas todas coisas, sempre foi um dos primeiros símbolos religiosos desde as mais antigas religiões, bem antes mesmo do judaísmo, inclusive. Como ritual, a tradição de associar o ovo ao renascimento acontece porque é nessa época em que os povos primitivos comemoravam a chegada da primavera. Após o tenebroso inverno, eis que surge a primavera. As árvores secas se enchem de flores, a fria neve derrete, enchendo os riachos, os animais saem de sua hibernação, todos, homens e natureza, celebrando a nova vida, celebrando a primavera. Tanto é que em inglês, a Páscoa se chama “Easter”, em homenagem à deusa Ishtar (Vênus), patrona da primavera, a estrela da manhã que pode ser vista no nascer do sol, o que deu origem ao ponto cardeal East (leste). Portanto, os “Easter Eggs”, nossos “Ovos de Páscoa”, nada mais são do que uma comemoração à chegada sim da primavera, da recriação cíclica da natureza, e assim é um arquétipo, e o mais antigo, da vida nova, do renascimento para nós mesmos, que também devemos renascer para obter a vida eterna, quando nos unirmos de volta à fonte da vida, ao ovo cósmico primordial. Para os hindus, o arquétipo da vida nova está em mortificar o eu iludido e fazer renascer o verdadeiro eu unido ao todo. Para o espiritismo, reencarnar. Para o cristianismo, ressuscitar no dia final. De fato, é a época da ressurreição de Cristo que foi inserida na época da primavera. Como um redentor cósmico, Cristo deixa o sepulcro vazio, uma casca de ovo vazia, e ascende de volta à fonte, como a estrela da manhã, bem como já se contavam sobre vários heróis gregos que fizeram o mesmo caminho de morte-renascimento-ascensão há milhares de anos antes, e Cristo o faz bem na época em que todos os povos já celebravam o renascimento há milhares de anos, bem na época da primavera, bem quando a Páscoa já existia, e bem quando o ovo como símbolo de vida nova já existia. Portanto, quando eu vejo um ovo de Páscoa, eu não vejo um símbolo que afasta as pessoas do verdadeiro significado da Páscoa. É o contrário. Quando vemos um ovo de Páscoa, estamos vendo um símbolo dos mais antigos e significativos sobre o chamado a uma vida nova, presente na história humana há milhares e milhares de anos antes da páscoa cristã, e que se perpetuou com novas vestes pelo cristianismo. E, independente da sua religião, desejo que a Páscoa simbolize (assim como sempre simbolizou esse arquétipo desde os povos antigos) o renascimento diário de uma pessoa melhor, que sepulta os velhos vícios e ressuscita as virtudes mais íntimas e autênticas de seu verdadeiro eu. Porque ninguém verá um mundo melhor se não nascermos de novo, rompendo as cascas do conforto mas que nos impedem de evoluir, e deixando as velhas vestes mortuárias para trás, para então ascender, renascidos como pessoas que farão deste mundo um mundo melhor, portanto, renascido também. Então, Feliz Páscoa para todos!