CHEIA DE MANIAS
CHEIA DE MANIAS
Adoro ler livros; assistir TV; ver shows das minhas bandas favoritas; tomar água, e café; comer bolo; deixar a pia sem louças sujas; dormir bem... Fazer amor. São tantas coisas simples que gosto e faço no meu dia dia, que nem dá pra lembrar de tudo.
Tem também as coisas que não gosto, como chocolate e doces; confesso que não sou fã de frases melosas e nem muito menos de declarações tradicionais de amor. Não gosto de gente falsa nem dissimulada; Não gosto de algodão doce nem de maçã do amor; mas gosto do palhaço que se arrisca no globo da morte, fantasiado de alegria, cheio de graça e risos sobre a pintura desviante do bobo da côrte.
Não amo por amar; não gargalho sem graça; e nem uso salto alto correndo risco de tombar. Os passos elegantes; a fala comedida e pausada; o silêncio na hora certa; os talheres alinhados e bem posicionados no prato vazio depois da refeição; uma perna de ladinho, de cada vez, a cada degrau da escada descido; o bom dia antes do meio dia... O ombro em alinho com o queixo são coisas que nos diferenciam entre os demais.
Posso declarar-me uma pessoa de muita sorte!! Por quê? Simples, meu par acostumou-se a ver-me ler meus livros de trás para frente; assistir comerciais ao invés de novelas; preferir o baterista da banda ao vocalista; tomar água natural e café esfriado na xícara; desenformar e comer bolo quente, saído do forno; organizar a pia do menor para o maior, dos talheres às panelas para manter a ordem sobre a pia da cozinha; não usar travesseiros, substituindo-os por rolos de lençóis acomodados na nuca... Dormir com os pés fora da cama. Ah, ia esquecendo, não tem quem me faça colocar o creme dental na escova, ele vai direto à boca.
Gosto de músicas alegres e dançantes. De pessoas felizes. De sorrisos. Gosto de lavar minhas roupas. Estou tão acostumada com as minhas manias que esqueço que o marido está no carro a mais de meia hora, esperando que eu termine de escovar meus cabelos para ir trabalhar. E ainda falta passar o lápis nos olhos... Agora eu saia de casa sem pintá-los!
Por um tempo eu pensei que estivesse com algum tipo de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), feito gente que morde por nada a língua ou que tem o "cesto" de mexer com a boca, ou que mexe o ombro e pisca descompassadamente. Cheguei à conclusão que tantas manias não me permitiam repetir compulsivamente certos atos, até porque tenho outra mania, a de não me conter com rotinas entediantes. Lembrei de uma cena da novela Babilônia, entre os personagens de Glória Pires e André Bankoff, depois de um sufoco que passaram (quase foram flagrados pelo marido da personagem de Glória) o amante diz que ela, a personagem, é uma ninfomaníaca. Glória, que faz o papel de Beatriz, diz que esse termo é piegas, que o chique é dizer: mulher viciada em sexo. No entanto, ela refaz a ideia dizendo que se descreve como uma mulher madura, dona do seu corpo e das suas vontades...
Pensando bem, enquanto minhas manias não passarem de particularidades lúdicas, não há motivo para marcar horário com o psicanalista.Afinal, gostar de bolo quente, café esfriado na xícara e água natural não quer dizer que sou louca. Ou quer?
Flávia Arruda 03/04/2015