O QUE MUDOU: A FORMA OU O OLHAR?
Há exatamente dois mil e quinze anos atrás um Ser especial era crucificado por pregar o AMOR entre os Homens.
A cena seria um parábola histórica, figurativa e didática para o mundo que caminharia a partir dali.
Lembro-me que quando criança eu participava, lá numa longínqua cidadezinha do interior, de toda a comemoração da semana Santa vivida e vivificada, a que começava já com o 'Domingo de Ramos', passava pela cerimônia do Lava Pés, depois pela via Sacra da Paixão, pela catártica malhação do Judas no sábado de Aleluia e finalmente com a Páscoa Dominical que era a parte que eu mais gostava porque, afinal, haveria um pouco de chocolate trazido pelos coelhos.
Lembro-me que, na ingenuidade dos meus sete anos, eu olhava para todas as imagens sequenciais da PAIXÃO DE CRISTO, naquela época algumas ainda cobertas com tecido roxo, e não conseguia entender claramente porque diziam que Ele havia morrido pela salvação dos Homens.
Parecia ser algo imensamente paradoxal para mim.
Na minha cabeça de criança, ao meu olhar, ninguém deveria morrer por querer que as pessoas se amassem uns aos outros.
Eu perguntava o porquê, poucos sabiam responder algo que me satisfizesse à minha angústia tão lógica de criança.
Com o tempo, lendo o livro Sagrado e outros livros de Teologia, fui entendendo aos pouco que o Amor tem alto custo terreno em qualquer tempo e lugar.
O amor é exercício sofrível porque contraria interesses.
Aprendi que em nome do amor se cometem barbáries e que é preciso se pedir licença para amar.
Entendi que entre os homens de todos os tempos, todos os seus sentimentos, mesmos os melhores e bem intencionados, têm que passsar pelo "crivo político do poder das eras".
MAS não era proibido acreditar em Deus, ao menos parecia que não.
Naquela época, ir ao confissionário contar os meus pecados era algo que disparava meu coração, embora hoje não saberia me dizer quais eram os meus pecados de criança.
Lembro que eu os ecrevi num papel para não esquecer de nenhum deles...
Certa vez tirei um pirulito do meu irmão e me confessei do erro.
Saía dali, rezava alguns 'Pais- Nossos e Aves- Marias' com toda a fé do mundo e o ollhar da minha alma de criança já vislumbrava um mundo colorido de bondade onde todos os pecados estavam prontamente perdoados por Deus e principalmente pelos Homens.
Saía dali acreditando que AMAR já me seria permitido e automaticamente perdoado.
Então era isso...e com Com Cristo não fora diferente e digo que custei para entender o todo.
Aos poucos fui entendendo o que ocorrera, com um entendimento mais completo, mais vivido, mais sócio-humanístico.
Naquela época eu não sabia de nada, muito menos que a PAIXÃO DE CRISTO teria sido e continuaria a ser a encenação mais perene dentre a humanidade desde os primórdios do HOMEM.
Todos, sem exceção e independentemente de crença teológica ou religiosa, viveriam todo o seu tempo dos ensinamentos daquela paixão que ensinava petreamente os caminhos à própria vida de VERDADE.
Hoje olho para o cenário do mundo e vejo em cada cena contada aos nossos olhos, próximos ou distantes dos fatos que nos deixam perplexos, que a nossa sorte lá estaria lançada pelos tantos ensinamentos que nos foram deixados.
Livre arbítrio, o único caminho, estava nas nossas mãos.
A separação do joio do trigo seria uma luta árdua, contínua e nossas escolhas seriam puníveis pelas mãos dos homens cegos.
O Sermão das Montanhas é lei espiritual em todo tempo.
Iscariotes está em qualquer lugar disfarçado de sorrisos e de benevolências.
São muitos os que julgam sem saber, os que apedrejam e os que lavam as suas mãos sujas...
A crucificação ou não pela nossa trajetória é opção que pertence a todos nós em cada caminho escolhido.
O amor pode ser crucificado todos os dias...mas é o único caminho que salva a todos.
E a renovação para a vida plena é a que vale toda a pena das vias sem saídas fechadas pelo Homem, e sempre nos chega, a despeito das dores universais e holísticas que cavamos com as próprias mãos.
Dia de elevar o pensamento ao SAGRADO DE CADA UM e clamar para que o Pai não nos deixe órfãos da clarividência que tudo pressente e orienta, ainda que a formatação DO MEIO insista em nos desviar o olhar de todas as coisas essenciais.
Que Deus, seja Ele em qual concepção for, ainda que não tão inteligível à nossa dimensão e à nossa tão parca compreensão de Homens sábios, sempre nos mostre e nos ilumine os caminhos a seguir rumo à paz e à justiça entre nós todos, os que só o AMOR nos promove.
E ainda hoje, como Crsito pediu por nós, também peço perdão ao Pai porque, de fato e pelo planeta todo, continuamos a não saber sobre as consequências dos nossos insanos atos...