DEUS NOS LIVRE DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS
Por: Tânia de Oliveira

            Minha filha que  ainda está amamentando... me chamou pra ajuda-la. Queria fazer um tratamento no cabelo e como o processo seria prolongado eu a ajudaria ficando como meu neto. Aceitei e fomos logo cedo à cabeleireira.
            Lá chegando ela estava dando um curso a outras profissionais. Após, nos atender... começou o trabalho de diagnóstico e de assistência ao cabelo. Explicou que o salão estava em reforma e mudança, daí tivéssemos paciência pois as coisas sairiam de forma mais lenta.
          Tudo impecavelmente limpo. Não havia ajudantes. Apenas o marido dela, uma figura muito simpática aparentando seus cinquenta anos que de vez em quando manifestava um carinho especial por ela. Via-se o gesto amoroso com que se dirigia a ela. Não demorou muito com nossa conversa simpática, a ajuda em acomodar meu neto, a iniciar uma confidência rápida sobre como amava a esposa e que era tão dependente do amor dela e que só comia quando ela colocava a comida no prato dele que não sabia viver sem ela. Falava isso tímido, sem nos olhar nos olhos e de forma meio cômica, passando o pano nos objetos do salão, como se fosse uma criança. Ela séria ouvi como se não estivesse ali presente. Tomava algum líquido numa caneca de café e de vez em quando fazia um intervalo e ia até a cozinha da casa.
         Ela estava tomando cerveja. Após poucas horas ela já estava meio alta embora não vacilasse em seu trabalho técnico e profissional que continuava a executar de forma habilidosa. Não demorou, após umas observações simpáticas e conversa recíproca ela começou de repente a falar de sua vida.
         De uma vida marcada por situações de cunho psicológico fortíssimo entre eles o que vou relatar:
         - Desabafou ela que quando criança, exatamente aos oito anos de idade, ouviu uma conversa de seus pais com o fazendeiro da região onde ela morava no interior, sobre a doação de umas tarefas de terra ...e sua mudança para a residência desse senhor. Não entendeu direito, no momento, mas ficou muito triste quando teve que mudar da casa de seus pais.
         Era a irmã mais velha de seus irmãos. Vivia chorosa pelos cantos da casa sem saber quanto tempo passaria ali. Na mesma semana, o senhor pediu que ela fosse à casa de farinha buscar um facão que ele deixara lá. Era noite, estava escuro, mas ela foi. Chegando la mal entrou ele apareceu como uma assombração pegou-a pelo braço e jogou na prensa da casa de farinha. Tirou a sua calcinha e a esturprou no anus com toda violência possível, dizendo palavras grosseiras e obscenas. Depois jogou-a no chão. Ela saiu se arrastando pelos matos, enquanto sentia o sangue escorrer pelas pernas. Até que na escuridão da noite adormeceu debaixo de um pé de jenipapo. Pela manhã quando o sol saiu devagarzinho caminhando pelo sentido contrário a casa grande. Suas pernas não a levaram para a casa dos pais. Não sabe quanto tempo andou nem lembrava o que sentia. Anestesiada, andou até a residência de sua avó. Contou tudo. A avó cuidou do ferimento abraçou-a e disse que esquecesse tudo aquilo. E se comportou como se já soubesse do que houvera.
       Enquanto ela falava, minha filha olhava pra mim de soslaio, meu coração....bem ...segui-se outras histórias de uma vida dolorosamente difícil ...e infeliz...
       No táxi de volta, nós duas... não conseguimos comentar sobre o assunto. Apenas apertamos a mão uma da outra e ficamos nesse silêncio até chegar em casa. Minha filha ligou para o marido dizendo que ia dormir em minha casa.
          Eu, ela, meu neto e uma energia tão forte ...vibrava entre nós...que não nos deixava dormir...nem falar...! Sim...falar sobre o calvário daquela criatura de jeito doce...que por um motivo que desconhecemos... resolveu desabafar sobre sua triste vida..... para nós: eu, minha filha Karol e meu neto Luan.

Tânia de Oliveira
Enviado por Tânia de Oliveira em 03/04/2015
Reeditado em 31/08/2022
Código do texto: T5193334
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