Judas
e o mistério da traição
1. No Sábado de Aleluia, a malhação (ou queima) de Judas, representado na brincadeira por horrorosos bonecos de pau e pano, é, sem sombra de dúvidas, a principal atração.
Essa tradição, difundida e cultivada tanto entre os católicos como entre os ortodoxos, chegou até nós trazida pelos irmãos portugueses, ainda nos tempos do Brasil colônia.
2. O porquê de todo esse ódio contra o Iscariotes é sobejamente conhecido.
Mas não custa nada recordar: admite-se, que Judas, um dos Doze Apóstolos escolhido a dedo pelo Mestre, tenha-o traído, entregando-o, "em noite traiçoeira", aos sumos sacerdotes, para ser "julgado e crucificado", tal como descrevem os Livros Sagrados.
3. Judas passou, então, a ser sinônimo de traição, de mal-caratismo, etc., etc. Arrancando do ex-papa Bento XVI esta lúcida observação: "O simples nome de Judas suscita entre os cristãos uma reação instintiva de reprovação e de condenação", está no seu livro Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo.
4. Não há como negar que o estranho comportamento de Judas Iscariotes, o traidor (depois de Simão Pedro o apóstolo mais citado no Novo Testamento - 20 vezes), continua suscitando dúvidas, apesar da credibilidade que, para alguns, os quatro Evangelhos sempre mereceram, através dos séculos.
5. Houve até quem tentasse inocentá-lo ou diminuir-lhe a culpa no escabroso e épico episódio bíblico da traição.
6. Ernest Renan, por exemplo, no seu formidável e conhecidíssimo livro A Vida de Jesus, diz o seguinte: "Sem negar que Judas Cariote tenha contribuído para a prisão de seu mestre, acreditamos que as maldições com que o acusam tenham algo injusto. Talvez em seu feito tenha havido mais inabilidade do que perversidade."
7. Volto ao ex-papa Bento XVI e transcrevo o que diz o Teólogo Joseph Ratzinger no seu livro Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo, acima referido, sobre a traição de Judas.
"Uma segunda pergunta se refere ao motivo do comportamento de Judas: por que ele traiu Jesus? A questão é objeto de várias hipóteses. Alguns recorrem ao fator de sua avidez de dinheiro; outros dão uma explicação de ordem messiânica: Judas teria ficado desiludido ao ver que Jesus não inseria no seu programa a libertação político-militar do seu país.
Na realidade - prossegue - os textos evangélicos insistem em outro aspecto: João diz expressamente que `tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o entregasse´(Jo 13,2); de modo análogo escreve Lucas: `Entrou satanás em Judas, chamado Iscariotes, que era do número dos Doze´(Lc 22,3).
Desta forma - finaliza -, vai-se além das motivações históricas e se explica a questão com base na responsabilidade pessoal de Judas, que cedeu de maneira infeliz a tentação do maligno". E peremptório, embora admitindo a participação do capeta, afirma: "A traição de Judas permanece, contudo, um mistério."
9. A história da traição de Judas - me perdoem se cometo uma bruta de uma leviandade - nunca me deixou convencido da sua veracidade; apesar do que sobre esse assunto escreveram Lucas e João, este, segundo Renan (não confundir), nutriu um "ódio particular contra Judas."
10. Parece-me difícil aceitar, de pronto, que Judas, um dos Dose, amigo do Mestre, aplicando no seu Senhor um simples beijo, tenha consumado a traição; e o que é pior, com o conhecimento prévio e o consentimento pleno do traído, que não era uma qualquer: era Jesus de Nazaré.
11. Ah, foi "arte do diabo!", afirmam Lucas, João e até o Teólogo Ratzinger, no texto que acima transcrevi. Não convence.
12. Vou, permitam-me, ficar com o ex-papa quando Sua Santidade, certamente depois de longa e criteriosa reflexão, concluiu, e disse, claramente, que "A traição de Judas permanece, contudo, um mistério."
Vale ler o que Bento XVI escreveu sobre o tesoureiro de Jesus, (Ah! os tesoureiros!) no livro que me levou a digitar esta maldita (?) crônica.
e o mistério da traição
1. No Sábado de Aleluia, a malhação (ou queima) de Judas, representado na brincadeira por horrorosos bonecos de pau e pano, é, sem sombra de dúvidas, a principal atração.
Essa tradição, difundida e cultivada tanto entre os católicos como entre os ortodoxos, chegou até nós trazida pelos irmãos portugueses, ainda nos tempos do Brasil colônia.
2. O porquê de todo esse ódio contra o Iscariotes é sobejamente conhecido.
Mas não custa nada recordar: admite-se, que Judas, um dos Doze Apóstolos escolhido a dedo pelo Mestre, tenha-o traído, entregando-o, "em noite traiçoeira", aos sumos sacerdotes, para ser "julgado e crucificado", tal como descrevem os Livros Sagrados.
3. Judas passou, então, a ser sinônimo de traição, de mal-caratismo, etc., etc. Arrancando do ex-papa Bento XVI esta lúcida observação: "O simples nome de Judas suscita entre os cristãos uma reação instintiva de reprovação e de condenação", está no seu livro Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo.
4. Não há como negar que o estranho comportamento de Judas Iscariotes, o traidor (depois de Simão Pedro o apóstolo mais citado no Novo Testamento - 20 vezes), continua suscitando dúvidas, apesar da credibilidade que, para alguns, os quatro Evangelhos sempre mereceram, através dos séculos.
5. Houve até quem tentasse inocentá-lo ou diminuir-lhe a culpa no escabroso e épico episódio bíblico da traição.
6. Ernest Renan, por exemplo, no seu formidável e conhecidíssimo livro A Vida de Jesus, diz o seguinte: "Sem negar que Judas Cariote tenha contribuído para a prisão de seu mestre, acreditamos que as maldições com que o acusam tenham algo injusto. Talvez em seu feito tenha havido mais inabilidade do que perversidade."
7. Volto ao ex-papa Bento XVI e transcrevo o que diz o Teólogo Joseph Ratzinger no seu livro Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo, acima referido, sobre a traição de Judas.
"Uma segunda pergunta se refere ao motivo do comportamento de Judas: por que ele traiu Jesus? A questão é objeto de várias hipóteses. Alguns recorrem ao fator de sua avidez de dinheiro; outros dão uma explicação de ordem messiânica: Judas teria ficado desiludido ao ver que Jesus não inseria no seu programa a libertação político-militar do seu país.
Na realidade - prossegue - os textos evangélicos insistem em outro aspecto: João diz expressamente que `tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o entregasse´(Jo 13,2); de modo análogo escreve Lucas: `Entrou satanás em Judas, chamado Iscariotes, que era do número dos Doze´(Lc 22,3).
Desta forma - finaliza -, vai-se além das motivações históricas e se explica a questão com base na responsabilidade pessoal de Judas, que cedeu de maneira infeliz a tentação do maligno". E peremptório, embora admitindo a participação do capeta, afirma: "A traição de Judas permanece, contudo, um mistério."
9. A história da traição de Judas - me perdoem se cometo uma bruta de uma leviandade - nunca me deixou convencido da sua veracidade; apesar do que sobre esse assunto escreveram Lucas e João, este, segundo Renan (não confundir), nutriu um "ódio particular contra Judas."
10. Parece-me difícil aceitar, de pronto, que Judas, um dos Dose, amigo do Mestre, aplicando no seu Senhor um simples beijo, tenha consumado a traição; e o que é pior, com o conhecimento prévio e o consentimento pleno do traído, que não era uma qualquer: era Jesus de Nazaré.
11. Ah, foi "arte do diabo!", afirmam Lucas, João e até o Teólogo Ratzinger, no texto que acima transcrevi. Não convence.
12. Vou, permitam-me, ficar com o ex-papa quando Sua Santidade, certamente depois de longa e criteriosa reflexão, concluiu, e disse, claramente, que "A traição de Judas permanece, contudo, um mistério."
Vale ler o que Bento XVI escreveu sobre o tesoureiro de Jesus, (Ah! os tesoureiros!) no livro que me levou a digitar esta maldita (?) crônica.