Ilustração: Recorte da tela A Transfiguração, de Girolamo Salvodo (Galeria dos Uffizi, Florença)
E, toda tarde, era só tocar a Ave-Maria no alto-falante da igreja de Nossa Senhora da Saúde e lá vinha: “faça-a-prece-pra-padroeira, meu filho, seis-horas”. (Só quem viveu no interior sabe, com dorida saudade, o encanto de uma Ave-Maria tocada numa igrejinha...)
Extraído do livro Menino-Serelepe
Extraído do livro Menino-Serelepe
No livro Menino-Serelepe* anotei diversas passagens sobre a fé católica de minha família (pelo lado de minha mãe), algumas das quais já relembrei aqui no site, como estas:
- Qual é a melhor religião - aqui
Confiram:
Mãe conversava muito comigo, acarinhava, contava histórias, repetidas vezes falava da vida difícil que levara, recitava toda a genealogia da parentalha Gentil-Lobo e desfiava o rosário de lembranças da família. Me criou na fé católica de missas, terços, novenas, jejuns e promessas.
Me fez frequentar catecismo, confessar, fazer primeira comunhão, levar flores para o Sagrado Coração e ajudar na enfeitação das ruas, por ocasião das procissões de Corpus Christi e, na Semana Santa, acompanhar a procissão do Encontro e a do Senhor Morto. Na malhação do Judas, não fica perto do foguetório, cuidava de recomendar.
No Natal, colhe lodo no jardim e me ajuda a montar o presépio em cima do tager, ela dizia. E, toda tarde, era só tocar a Ave-Maria no alto-falante da igreja de Nossa Senhora da Saúde e lá vinha: “faça-a-prece-pra-padroeira, meu filho, seis-horas”. (Só quem viveu no interior sabe, com dorida saudade, o encanto de uma Ave-Maria tocada numa igrejinha...)
E as Sextas-feiras Santas, de silêncios, jejuns, meditações, preces e sem quaisquer afazeres, mesmo os domésticos, pois que as comidas se faziam na véspera, tudo isso pra velar o Senhor Morto, essas tradições se foram com os novos tempos e não voltarão jamais!
Me fez frequentar catecismo, confessar, fazer primeira comunhão, levar flores para o Sagrado Coração e ajudar na enfeitação das ruas, por ocasião das procissões de Corpus Christi e, na Semana Santa, acompanhar a procissão do Encontro e a do Senhor Morto. Na malhação do Judas, não fica perto do foguetório, cuidava de recomendar.
No Natal, colhe lodo no jardim e me ajuda a montar o presépio em cima do tager, ela dizia. E, toda tarde, era só tocar a Ave-Maria no alto-falante da igreja de Nossa Senhora da Saúde e lá vinha: “faça-a-prece-pra-padroeira, meu filho, seis-horas”. (Só quem viveu no interior sabe, com dorida saudade, o encanto de uma Ave-Maria tocada numa igrejinha...)
E as Sextas-feiras Santas, de silêncios, jejuns, meditações, preces e sem quaisquer afazeres, mesmo os domésticos, pois que as comidas se faziam na véspera, tudo isso pra velar o Senhor Morto, essas tradições se foram com os novos tempos e não voltarão jamais!
Tager: Etager = móvel, cômoda. [A pronúncia corrente era tager.]
Referência: Biblia Sagrada, Ed. Gramma, RJ
(*) O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem é uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.