NO MEU TEMPO

No meu tempo de menina (há vinte anos) tínhamos mais oportunidades de diversão. Digo diversão de verdade, onde os garotos e garotas brincavam a luz do dia ou da noite enluarada, sem se cansarem. Brincávamos de toca, tô no poço, amarelinha, baleado, esconde... esconde, beijoca para os mais ousados rsrsrs, enfim, era a coisa mais saudável do mundo.

Sinto falta das briguinhas bestas que tínhamos por motivos chulos. O contato era inevitável. Os risos infindáveis das piadas sem graça dos intrometidos colegas da rua. Quando combinávamos acampar nos fundos do quintal do Luizinho, cheio de árvores e bananeiras era a maior arruaça organizada. Um bando de crianças com lanternas nas mãos fingindo estar num lugar habitado por animais selvagens, dentro das barraquinhas de campi comendo pipoca com refrigerante, sendo vigiada a distância pelos pais.

E quando brincávamos de casinha, que todas as meninas traziam um pouco de comida de casa, e no quintal ascendíamos uma pequena fogueira e cozinhávamos tudinho. Ah, como é bom trazer a memória uma infância tão divertida. A tecnologia não fazia parte da nossa vida porque com certeza, atrapalharia e muito nossa cumplicidade e união.

E na escola, que reuníamos todos na biblioteca da cidade para estudarmos juntos, pesquisando até acharmos o que a professora havia pedido, sem modéstia. Depois a turma toda aproveitava um cineminha, pois os shoppings não eram tão populares como são atualmente.

Hoje, os tempos são outros. A violência amedronta cidades inteiras, tirando a liberdade que outrora existia. A revolução tecnologia veio para aprisionar os jovens cada vez mais viciados nas redes sociais. Ninguém mais senta numa calçada para bater um papo gostoso. Agora apenas no WhatsApp, Facebook ou até outro mais moderno, serve de canal para um diálogo rápido e prático. Ninguém mais vai à biblioteca, pois a pesquisa pode ser feita virtualmente. Por mais que ainda existam livros (graças a Deus), os e-books estão em moda facilitando assim a vida dos muitos leitores em todo o mundo.

Não estou querendo desmerecer a tecnologia, muito pelo contrário. É bastante útil para quem sabe realmente utilizá-la. Porém, os jovens estão cada vez mais sedentários e preguiçosos, pelo menos em sua grande maioria. Alguns não largam o celular ou o tablete. A obesidade infantil tem aumentado bastante, em sua maioria pelo sedentarismo, e isso tem causado outros problemas de saúde nos jovens.

No meu tempo, era uma raridade adoecermos. Não éramos uns jovens gordos, muito pelo contrário, tínhamos saúde de sobra e não parávamos de correr, rua a cima e rua a baixo, com a mãe a gritar repetidamente para tomarmos banho no final da tarde, pois o jantar aproximava-se.

Saudades, muitas saudades tenho mesmo daquele tempo, pois eu tive uma infância e adolescência inesquecíveis. Posso dizer: Fui uma menina que viveu como menina levada pelas emoções e amizades que perduram até hoje.

Débora Oriente