CARENCIA

Carência...

Hoje no mercado um fato me chamou atenção: Temos tido dias muito quentes. A praia está convidativa demais, o mar com as águas verdes transparentes e quentes. Levantamos tarde e antes da praia resolvemos ir ao mercado comprar bebidas e frutas. Fomos a um grande atacadista aqui perto. Sempre nos esquecemos das filas enormes, e só nos lembramos quando estamos lá, e depois das compras feitas. Queríamos pagar as poucas compras rapidamente para colocarmos logo nossas cadeiras na água e ficarmos lá preguiçosamente o dia todo.

Então estávamos nós lá na fila, seríamos os terceiros a ser atendidos, quando uma velhinha magrinha e humildezinha veio ao rapaz a minha frente pedir que ele a deixasse passar as compras dela antes dele. O rapaz perguntou a ela se as compras dela eram poucas. Ela enumerou seus itens que não eram tão poucos assim. Ele lhe disse que com certeza estava com muito mais pressa que ela e que não poderia lhe ceder o lugar. Uma mulher atrás de mim falou em voz alta: _ A fila do caixa especial está vazia. Eu então disse a velha senhora que fosse para o caixa especial que estava vazio. Ela me fuzilou com os olhos e pediu entre dentes que eu a deixasse passar. Nessa hora seu olhar se tornou meio bruxesco, ela perdeu seu ar de velhinha desamparada. Fiquei pensando se deveria ceder-lhe meu lugar na fila. Fiquei me achando egoísta e tentando apaziguar a minha consciência. Mas ao mesmo tempo me consolei pensando que eu não poderia simplesmente deixá-la passar suas compras. Ela não estava na fila, para ceder meu lugar a ela eu teria que ir para o final da fila. E isso, claro que eu não queria fazer.

Mas enfim fiquei a pensar: Porque ela perdia o tempo dela indo de fila em fila pedir que a deixassem passar na frente? Era menos trabalhoso e mais rápido esperar a vez na fila para idosos.

Então me dei conta de que o que ela queria era experimentar a sensação de ser cuidada. Imaginei que em outra ocasião de sua vida solitária, uma pessoa gentilmente tenha lhe cedido lugar e ela tenha sentido uma sensação boa de carinho e queria repetir a sensação, não importando que demorasse mais conseguir que alguém lhe cedesse o lugar a esperar por sua vez.