O RÁDIO
O RÁDIO
O rádio de pilha ficava guardado em cima da cristaleira da sala de jantar. Fazia parte da decoração da sala principal de refeições. Era uma peça de grande valor sentimental, estima e valia. Embelezava o ambiente e trazia nostalgia ao vazio da sala. Era uma peça única, com detalhes singulares, diferente de todos os rádios que passaram pela casa. Havia uma beleza diferente em suas formas, seu som era mais vibrante, emitia informações preciosas e seus botões tinham um charme especial.
Ele era pouco usado. Havia de se ter cuidado. A peça de grande valor estava sensível ao tempo, as quedas e tropeços dos maus usos. Uma vez a cada trinta dias, às quartas-feiras, era o dia em que se vestiam de gala, sentavam-se frente a ele a sintonizá-lo nas ondas de rádio. Na maioria das vezes, a sintonia era perfeita, em outros dias era preciso ajustar a posição da antena, do lugar e da rádio. Eram feitos testes para que se encontrasse a freqüência perfeita e a música soasse sem ruídos.
Nos dias de tempestade, ele era guardado em lugar seguro, longe das trovoadas, dos relâmpagos e dos respingos de água. Protegendo-o das mudanças climáticas e suas conseqüências. O rádio era um bem precioso que não podia ser danificado. Com zelo, ele duraria por mais algum tempo.
Flávia Arruda 31/03/2015