COCADA DE SAL

O grande sonho de Maria era casar com um cara rico. Não importava quem eler fosse, bastava que fosse abonado. Destestava viver naquela casinha do Alto do Peba. A casa era pequena e acanhada, não tinha nada a ver com os sonhos de grandeza de Maria. A sua família era pobre, o pai era pedreiro e a mãe costureira. Dos cinco filhos do casal ela era a mais velha. Tinha 18 anos e era muito bonita.

Os pais faziam de tudo para agradá-la. Era a menina dos seus olhos. Passavam dificuldades para educá-la, mesmo na rede pública. Ela, porém, tinha vergonha da família, jamais se referia a ela nas conversas com as colegas de colégio. A sua maior frustração era não ter nascido rica. Invejava demais as moças ricas, mas ódio só sentia pelos mais pobres, inclusive pelo filho de um vizinho, um rapaz da sua idade que era apaixonado por ela. Ele, no entender dela, tinha um grande defeito: era pobre. Maria não cumprimentava ninguém na sua rua. Era tão impopular que ganhou o apelido de Cocada de Sal.

Assim ia levando a vida, sempre sonhando alto com um bom partido, e com uma raiva imensa remoendo dentro de si, odiava até a própria família, até o dia em que conheceu Marcos, um moço com pinta de rico que chegou na cidade, parente de um figurão do lugar. Ele logo botou os olhos na morena bonita e pobre do Alto do Peba. E ela nele, claro.

O rapaz era simpático, falante e alinhado, mas o que ela viu nele foi somente a possibilidade de obter a sua carta de alforria para se livrar do meio em que vivia e que achava indigno dela.

Do simples namoro na praça e no escurinho do cinema, avançaram para o bate-co\xas e daí para o relax nos motéis. Marcos não prometeu a Maria só a terra, mas também o céu e o mar. Os pais dela, após os cochichos da vizinhança, tentaram adverti-la com aqueles conselhos de praxe, mas issoo entrou por um ouvido dela e saiu pelo outro. Ela queria era casar e para isso faria o que Marcos quisesse. Ora, pensva, o cara tinha falado até em comprar as alianças e protera que depois do casamento levaria ela para morar numa big casa na beira da praia. Por que iria duvidar dele?

O figurão parente de Marcos aindfa tentou demovê-la do seu caso com o rapaz, mas ela achou que ele estava apenas querendo afastá-la de Marcos porque ela era pobre.

A porrada aconteceu dois meses depois: Marcos deu no pé e não deixou nem siquer um mísero bilhete. Simplesmente se mandou sem mais aquela. Era um tremendo pilantra, um conquistador contumaz, um malandro inveterado. A pobre moça quando caiu na real ficou dersesperada e ingeriu um tubo de comprimidos mas, levada às pressas para o hospital, uma lavagem estomacal resolveu o problema. Ficou outro: a gravidez. Tentou abortar ingerindo chás e toda sorte de meznhas. Não deu certo, decidiu então tentar a última cartada: recorrer aos serviços de uma papa anjos que havia no final da sua rua. Não foi preciso.

Quem salvou Maria e o bebê dela da ação da papa anjos foi o filho do vizinho, o rapaz que era apaixonado por ela. Ciente do caso, tamano era o seu amor pela moça, que ele lhe propôs casamento assumindo, inclusive, a futura paternidade. Pragmática, sabia que os ventos da realidade haviam destruído o castelo de areia dos seus sonhos, ela aceitou a proposta do rapaz.

Casou de vestido branco, véu e grinalda, toda nos trinques. Ela deu um chute no pau da barraca do seu orgulho e ficou humilde e popular. É, pasmem, feliz. Só não é totalmente feliz porque de vez em quando lhe bate uma certa tristeza, um banxo dos tempos dos sonhos, mas é coisa rápida, nada sério, nada que resista a uma canção brega e a rotina dos afazeres domésticos. De uma coisa ela tem certeza: o sonho que acalentava só acontece nas novelas da tevê.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 31/03/2015
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