Qual é o seu talento?
Cheguei à terceira idade sem descobrir qual o meu ”talento”, qual a coisa que vim talhado para fazer nesta passagem por aqui, aquilo que me destacaria na multidão. Quando criança, convivi por muitos anos com outros garotos, com quem jogava “peladas” nas grandes áreas cobertas de grama da Avenida Alexandrino de Alencar. Alguns daquela turma chegaram a ter sucesso como profissionais, como foi o caso do grande jogador Wallace Gomes da Costa, no entanto, nunca aprendi a jogar, futebol não era a “minha praia”. E olha que me esforcei, vivia com as canelas cheias de hematomas, no meu afã de me sair bem diante daquela garotada.
Na juventude tentei cantar, aprender a tocar violão, desenhar, e nada. Lembrei agora do poeta Manoel de Barros, que escreveu: “...sei um pouco de tudo e muito de nada”. Com o tempo, acomodei-me em ser mais um na multidão. Aprendi uma profissão (radiotelegrafista) e venho levando esta minha vidinha de funcionário público, comum e sem sobressaltos.
Mais recentemente, já aposentado, “inventei” de escrever poesias e pequenos textos, mas agora já tranquilo e sem maiores expectativas. Nem o fato de ver que também aqui não irei muito longe me incomoda mais. Afinal, se todos fossem estrelas, não haveria público para aplaudi-los.