A garota linda do ônibus

Oi. Olá. Boa tarde. Posso saber seu nome? Sim. Seu nome. Posso? Quer dizer, se não for muito incômodo. Não? Bom, quem sabe outro dia, né? O importante é tentar. Como foi seu dia? Você é muçulmana? Quanto tempo você demora para transar com um desconhecido? Cinco dias? Não? Era mentira? Ah, entendi. Bom, isso não iria funcionar de qualquer jeito. É, talvez não. Meus amigos achariam engraçado. O que será que está acontecendo comigo? Acho que vou falar com ela. Será? Quanta dúvida. Tá. Eu vou sim. Mas e se ela me rejeitar? O que iria pensar de um maluco atravessando o ônibus inteiro só para falar com ela? É. Acho que seria estranho. Eu não teria algo muito construtivo para falar. Chamá-la de linda seria muito óbvio. É óbvio que eu acho ela linda, se eu estou saindo do meu conforto para ir até lá não é pra chamá-la de feia. Calma. E se eu fosse até lá pra chamá-la de feia? Seria diferente, no mínimo. Ela poderia gostar da minha atitude. Seria original. Espera. Gostar de ser chamada de feia? Que tipo de ser deprimente gosta quando outro vem e diz “Oi, só vim dizer que você é feio” e a pessoa fica feliz? Todo mundo pensa isso? E se, por ventura, todos pensam isso e chegam na menina falando que ela é feia, pois acreditam que seria diferente e causaria um impacto melhor e mais original? Será que não é melhor eu falar logo que ela é bonita de uma vez? Não sei, mas estou começando a considerar a hipótese de que ela está com medo de mim, pois devo estar encarando-a como um assassino planejando a morte de um bairro inteiro e irei começar por ela. Bom, talvez seja melhor deixar passar essa. Tenho que ser rápido. Ela pode descer a qualquer momento. Tá bom. Já tenho uma ideia. Vamos lá. Não. Eu não vou. Vai logo! Você não tem nada a perder. Você provavelmente nunca mais vai vê-la na vida. É como dizem: o não você já tem. Tá bom, tá bom. Eu vou. Desta vez eu vou. Espera. É o meu ponto. Tenho que descer.