Reexistência

Um dia qualquer. Que fosse ensolarado, que estivesse frio ou até mesmo nevando. Talvez até chovendo - embora difícil. Apenas um dia qualquer.

Eis que no meio de toda essa bagunça me surge um espaço pra falar comigo mesmo.

Ando ocupado demais pra jogar conversa fora e esse tipo de reclusão me fez perder público.

Virar adulto definitivamente não estava nos meus planos. Acho que nem está. Acho ainda virei adulto, só cresci. E nem cresci muito. Talvez pros lados.

Só por brincadeira; as responsabilidades aumentaram de uma hora para outra e antes que eu pudesse ver eu já estava sufocado por uma infinidade de compromissos.

Fazia tempo que eu simplesmente não abria a página aqui e começava a escrever. Paciência. Os meus dias andam mais corridos do que eu imaginava; tanto que no começo do ano eu havia prometido pra mim mesmo que postaria um texto por mês no ano passado. Não apareço por aqui desde setembro e veja só... já estamos em março. E não voltamos no tempo, hein. Engano meu e sinceras desculpas à mim mesmo, resolvi assumir um compromisso que não conseguiria cumprir. Não foi culpa minha. E inclusive eu ando tentando conciliar as coisas da melhor maneira possível.

Tenho escrito pouco. O apreço pelos versos continuam, a criatividade ainda me visita de vez em quando - geralmente no horário da faculdade - mas a minha cabeça anda tão cheia, que quando me dou conta, já esqueci até mesmo do que estava falando.

No mais, como anda minha vida?

Bem, obrigado por perguntar.

As vezes eu acredito que é melhor ficar sozinho; as vezes eu acredito que é melhor estar sozinho. Chega um determinado ponto das situações que você aprende na prática que caminhar sozinho nem sempre é ruim.

Tocar a vida sozinho e ficar sem tempo pra pensar em ter alguma companhia de vez em quando. Final de ano é sempre a mesma coisa, o cansaço dos meses anteriores aparentemente se acumulam. Final do dia é sempre a mesma coisa: a noite cai e a gente espera voltar pra casa pra ter, enfim, o merecido descanso. Mesmo que minhas noites sejam ótimas, eu não durmo direito. E então, no outro dia, eu fico muito mais exausto. Sem paciência nenhuma com quem quer que seja.

Enquanto isso, no lustre do castelo, alguns fantasmas do passado vêm me encher o saco.

Nem digo assombrar, porque do jeito que eu ando, eu aceitaria sair no soco até com o diabo.

Eu quero um dia abrir os olhos e estar livre disso tudo. Acordar de manhã e ver que tudo isso não passou de uma noite mal dormida depois de comer muito no jantar ou então depois de voltar bêbado pra casa.

Agradecer, um dia, a todos que precisaram de mim, arrumar os botões da camisa, o zíper da calça, amarrar os sapatos e sair.

Sem responsabilidades.

Que um dia eu conheça tudo que ainda falta. Que um dia eu veja tudo que ainda não enxergo. Que um dia eu encontre tudo o que perdi.

Que um dia eu vá a todos os lugares que não visitei, que um dia eu redescubra cada parte do teu corpo, que um dia eu relembre tudo o que [ainda] não fiz, que um dia eu reveja as mulheres que nunca passaram pela minha vida, que um dia eu sinta todos os perfumes que nunca cheirei.

Que um dia eu viaje por todos os dias que juntos construíram minha vida, que um dia eu consiga achar o verdadeiro propósito de tudo isso. Que um dia eu consiga achar a saída desse labirinto que eu entrei quando ainda criança, que um dia minha adolescência nunca passe, que um dia eu não morra velho demais, que um dia eu não morra novo demais, que um dia eu escuto tudo aquilo que ainda não ouvi, que um dia eu descubra o pote de ouro no final do arco íris, que um dia eu toque o céu.

Que um dia eu passei longe do inferno.

Pensar cansa. O melhor a fazer então é tentar dormir, mesmo com a certeza de que o sono será agitado... Acordar cedo, tomar um banho e ir pra luta. Ganhar a batalha, mas perder a guerra. E no final das contas, o que sobra é a saudade:

"Aqui descansa um sonho", eu escreveria na sua lápide.

Bonito esses lábios vermelhos. São seus?

A melhor parte do dia é quando eles assinam meu pescoço...

Deveria eu ter forçado contra a parede só pra ver se machucava ou então a minha coragem misturada ao meu desespero me dariam forças suficientes pra destruir todo o caos que se esculturava nos corredores da cidade. Seria desperdício desperdiçar todo esse amor em linhas contidas e escondidas de menos de duzentos caracteres e espaços claustrofóbicos.

É como dizem, os avisos sempre têm algo em comum: Não cometa o mesmo erro que eu cometi.

Eu nunca fui muito comprometido com essas coisas mesmo.

Dentre todos os movimentos de um amor em comum (ou incomum?), os mais belos são expressões faciais espontâneas e determinados tipos de olhares. Eu invado o quarto e me pego admirando-a passar maquiagem, usada quase que como uma arma pra me deixar sem ar. Então, dentre privilegiados elogios, surge um sorriso que simplesmente acaba com a minha teoria.

Me sinto renascido das cinzas. Reexisto. Depois da tempestade, a calmaria junto com um belo arco íris tratam de retratar todo o resto.

Entrando novamente no cemitério, carregado, caminho lentamente até um túmulo bem decorado, que aparentemente eu já havia visto antes, que diz assim:

"Aqui jaz o cadáver do meu ego"

Um sorriso no rosto e enfim, a redenção; que eu retrato aqui como uma espécie de coragem. Resisto.

Afinal, resisti a tudo. Verão, inverno, inferno, primavera, outono e tudo mais o que passou até então.

Quem, em sã razão, desistiria?

Ultimamente eu ando com o semblante carregado de confiança e quer saber?

Eu posso ser.

A todos aqueles que não quiserem me escutar, sinceras desculpas. E a todos que me ouviram pacientemente, um muitíssimo obrigado.

Eu estou voltando a caminhar...