Sobre criar expectativas
Houve um tempo que eu não entendia direito aquela máxima que diz que não devemos depositar expectativas sobre pessoas, pois nem sempre- ou quase nunca- elas são capazes de alcançá-las. Quer dizer, eu até achava que compreendia, mas continuava cobrando e continuava criando expectativas que não devia. Eu achava que o amor era capaz de tudo e que uma pessoa te amar mais que tudo, tornava-a de alguma forma servo desse amor. Mas as coisas não funcionam bem assim.
Eu ainda acredito no amor e na força que ele possui, mas hoje, um pouco mais "madura", entendo que ele não escraviza ninguém. Não é senhor de ninguém. Não porque não tenha poder para isso, mas porque as pessoas tem a sua individualidade, sua personalidade, sua natureza e nem todas tratam esse sentimento com o mesmo zelo e apreço. E não que não amem. Elas amam e amam muito, como qualquer um é capaz de amar, mas talvez se amem mais ou simplesmente estejam mais aptas a obedecer o prazer de satisfazer a si mesmas antes de tudo. Algo que beira egoísmo, mas de certa forma é até inteligente. Não submeter a sua própria vontade a nada e nem mesmo ao maior dos amores do mundo. Estupidamente mundano e corajoso ao mesmo tempo. Afrontador, no mínimo.
Sei, entre todas essas coisas que ainda não aprendi direito, que pessoas e vontades são diferentes. E que se formos discutir ética e moral à fundo podemos não chegar a lugar comum nenhum. Por isso me dispo das ilusões de que se possa -mesmo por amor- mudar o outro. Ninguém muda ninguém, primeiro porque qualquer mudança é subjetiva, interna e delicada demais para acontecer do caminho oposto, que não seja de dentro para fora. Do âmago da pessoa, que por motivo ou outro, perceba que algo nela precisa ser modificado por algum propósito maior. Não porque lhe disseram ou exigiram que tem que ser assim, mas porque ela sentiu em seu coração a necessidade de se transformar. Como a lagarta que uma hora tece o seu casulo e de lá sai borboleta... é uma coisa muito íntima para partir do outro. Mesmo que esse outro seja o grande e maior amor das nossas vidas.
É aí também que entra a história das expectativas. A expectativa de achar que você ama tanto uma pessoa que irá modificá-la. A expectativa de acreditar que ameaçando- ou mesmo cumprindo a ameaça- abandoná-la para sempre ela irá, por medo de te perder, mudar para sempre. Mudar até pode mudar, mas "para sempre' é tempo demais. Expectativa de que fidelidade e amor sejam palavras sinônimas e complementares. Não são. Para muitos não são e isso não modifica o amor que sentem, mesmo que a maioria de nós não concorde ou não entenda como pode alguém dizer amar e trair. Mas pode! Pode e acontece muito, o tempo todo. E não é porque a pessoa não tenha coração ou sentimento, mas ela tem uma forma de agir e ver o mundo um pouco diferentes de você, que dedica a ela toda sua atenção e fidelidade do mundo. E não estou dizendo aqui que isso seja motivo para perdoar ou deixar de perdoar as falhas do outro. Isso depende única e exclusivamente de você, mas se perdoar não crie falsas expectativas outra vez. Decepcionar-se machuca demais e nem sempre é culpa do outro. Principalmente não é culpa do outro quando nós nos enganamos depositando nele expectativas que ele não é capaz de alcançar. A ilusão é nossa, a expectativa é nossa, a culpa é nossa.
Se você não é capaz de aceitar o outro como ele é, com suas virtudes e suas falhas, com cada um de seus defeitos, então saia fora. Porque nem o maior amor do mundo modifica o que não quer ou não pode ser modificado. E existem outras pessoas por esse mundo afora e alguma delas deve pensar no minimo parecido com você. Se você não é capaz de suportar que o outro te decepcione, não tente obrigá-lo a carregar nas costas expectativas maiores do que ele pode alcançar. Ou a decepção e as lágrimas e toda a dor serão só suas, mais uma vez e todas as vezes que você se enganar, de novo e de novo e de novo.