DOIS ANOS DA TRAGÉDIA NA BOATE KISS EM SANTA MARIA! QUEM AINDA SE LEMBRA?
Conhecedor das autoridades brasileiras e de suas comodidades administrativas eu duvido muito que o ano de 2013 entrará para a História motivada pelo incêndio na madrugada de 27 de janeiro, na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul! O conhecidíssimo clichê de que “brasileiro só fecha a porta depois de o roubo feito” não é somente uma teoria, isso é peculiar, é prática. Na febre de um acontecimento trágico, por exemplo, tudo parece caminhar para a resolução de todos os problemas, depois que passa a euforia, o choro e a somatória das perdas a tragédia já não é mais lembrada pelas autoridades e passa a ser lamentada somente pelos sobreviventes, familiares e amigos, como se a tragédia fosse para as autoridades (in)competentes um movimento modista de época, simplesmente.
Quem além da imprensa, dos sobreviventes, familiares e amigos próximos das vítimas ainda se lembram dessa tragédia que matou 242 pessoas e feriu 680, causada pelo acendimento de um sinalizador por um integrante de uma banda que se apresentava na casa noturna.
Com o incêndio iniciou-se um debate no Brasil sobre a segurança e o uso de efeitos pirotécnicos em ambientes fechados com grande quantidade de pessoas. A responsabilidade da fiscalização dos locais também foi debatida na mídia. Houve manifestações na imprensa nacional e mundial, que variaram de mensagens de solidariedade a críticas sobre as condições das boates no país e a omissão das autoridades.
Sabe-se que depois do incêndio procedeu-se uma investigação para a apuração das responsabilidades dos envolvidos, dentre eles os integrantes da banda, os donos da casa noturna e o poder público, de modo que o inquérito policial apontou muitos responsáveis pelo acidente, mas poucos foram denunciados pelo Ministério Público à Justiça. O inquérito policial-militar, por sua vez, foi condescendente com os bombeiros envolvidos no caso. A Justiça instaurou um processo e começou a ouvir depoimentos como preparação para o julgamento, porém os sobreviventes e parentes dos mortos receavam que a impunidade fosse a tônica do evento criminoso. Os servidores civis e militares, bem como as autoridades públicas, corriam pouco risco de sofrerem punições, como de fato, até a presente data, tudo continua impune, causando ainda mais traumas nos sobreviventes e nos familiares dos falecidos.
Gilson Vasco
escritor