Um jerico em Jericó?
Pelo parar das carruagens, os jericos brasileiros andam com os dias contados. Surgiu a motocicleta que, sem zurrar, ou necessidade de pastar no seu ócio, parece melhor negócio.
Já vi artigos que chamam, de forma vária, a atenção para a sina desses animaizinhos simpáticos que, desde que os salvou Noé, têm uma folha de relevantes serviços à humanidade, aparentemente com vantagem para o povo hebreu.
Afinal, foi um jumentinho que se postou na manjedoura do nascente Jesus, outro assistiu José na fuga precipitada para o Egito, seguindo a dica do anjo, e um outro ainda deu sela ao Nazareno para entrar triunfal em Jerusalém naquele festivo domingo de ramos.
Cá no Brasil, afastado de Jesus, e via-de-regra, pego pra Cristo se não chegamos a ter histórias tão expressivas, temos ao menos registros fidedignos e reconhecedores da utilidade desse animal que, embora danadinho nas suas proezas dionisíacas - querendo sempre lavar a égua - são uma doçura de serventia e destemor.
Mas eles vão perdendo terreno e, se me permitem a afirmação de que também são filhos do Pai, vão logo partindo para a eternidade, numa velocidade avassaladora: estão sendo vendidos, por mais até de 30 dinheiros, ao mercado da carne europeu que ao jerico o que mais associa é ser (transformado em) fina iguaria.
Não demorará, antes do fim dos tempos, quiçá, termos esse animalejo apenas na lembrança, quando acrescido do acento, metamorfosear-se o jerico, nó, em Jericó - que tão longe fica do sertão de Seridó.