Noite de Maio em Sampa

7 de maio de 2014.

 Hoje faz 40 anos daquela outra noite de maio, dia 7 de 1974. Fazia muito frio em Sampa, talvez uns 10 ou 8 graus. Céu estrelado, frio cortante, mas sem vento no Campo Belo.

 Eu havia passado a primeira semana do mês em puro delírio, ansiando, pedindo, querendo pela força do pensamento num paroxismo atroz, que surgisse algum sinal.

 Nada.

 Apenas frio, silêncio, recolhimento e solidão.

 Não aguentei, fui até lá.

 7 de maio de 1974, oito horas da noite.

 Fazia mais de um ano que não falávamos. Algo que nunca devia ter acontecido, aconteceu, nos separou em um momento de raiva, impotência, dúvida, insegurança, medo, medo de uns belos olhos...

 O sofrimento trouxe uma coragem indefinida, um tipo de fatalismo de quem já perdeu tudo, que mais faltava?

 Noite fria de maio em Sampa.

 Parei o carro na porta da casa simples em que morava. Fiquei um instante petrificado pensando no que fazer. Desço? Toco a campainha? Chamo seu nome? De todas as possibilidades escolhi a pior: toquei a buzina do carro.

 Uma, duas vezes. Silêncio!

 De repente uma luz se alonga na pequena varanda, luz que me faz sair do carro resoluto e vê-la surgir, linda, com aqueles olhos de abismo em cujo vórtice me perdi...

 Um pouco surpreendida, ela diz meu nome. Eu, tolo, digo que vim porque disseram que ela havia ligado. Não, ela diz, não liguei, mas que legal você aqui, diz me desarmando e fazendo com que uma calma me envolvesse.

 Notei que a realidade é muito mais simples que nosso pensamento (fiquei parado, extático, na noite fria de maio).

 Ficamos alguns momentos lado a lado, senti um ar de tristeza a nos envolver. Como a dizer por que tudo foi assim, algo que começou tão lindo e intenso?

 40 anos hoje! Naquela noite eu tinha 19 ela 16, mas nosso amor parecia antigo de séculos.

 Até achei que iríamos recomeçar onde paramos.

 Mas não, o tempo seguiu seu curso sem nós. “Ah como é indiferente o tempo que passa...

 Já não existia a conjunção que moveu nosso encontro, que nos fez mais felizes.

 Mesmo assim acreditei.

 Noite de maio em Sampa.