Obscuras intenções

Um cineasta falou na entrevista que as obras teatrais, cinematográficas, literárias e demais estórias contadas através de quaisquer meios têm como elemento principal o sofrimento. Realmente, acho que esse sentimento já me permeava de forma subversiva às percepções, tanto que bateu um eureca na hora! É isso mesmo! ...Mas, por quê? Por que logo ele, o sofrimento humano, é o protagonista ou pelo menos o coadjuvante quase que fundamental das representações? Por que essa necessidade do antagonismo nefasto à sublime dádiva feliz da existência? Por que, mesmo nas comédias, o constrangimento, o escárnio, os vexames, as perdas são ingredientes que fazem o contraponto ou mesmo disparam o gatilho do riso, neste caso, cúmplice sádico que fervilha as amorais mentes das plateias? Por que será que esse ácido combustível eleva os níveis de adrenalina de seres tão havidos pelo prazer a ponto de consumirem semitranstornados tamanha quantidade de moderada perversão? Seria o ato de transgredir à normas em doses próximas ao não permitido por seus costumes mais conservadores? Seriam projeções aventurescas e sombrias de seus espíritos oprimidos estampadas em telas, livros e palcos? Confesso que não me aprofundei nas reflexões a esse respeito até porque me bate uma sensação estranha de enveredar por caminhos tão obscuros quanto o motivo pelo qual os percorresse. Na fase em que questiono a existência da palavra trama certamente me sentiria desconfortável se mergulhasse em seus meandros. Talvez isso prove que a arte imita a vida e não o contrário e esta caminha infestada de sofrimento cujo antídoto deve ser administrado em doses proporcionais ao estágio de desenvolvimento em que estamos, mas... Em que estágio estamos mesmo?