RICARDO RODRIGUES MARQUES

Em princípio, o nome de Ricardo Rodrigues Marques nada tem a ver com o tema. Permitam-me uma viagem no tempo, para situar e situá-lo:

Como vários adolescentes da minha idade, arrisquei-me, aos quinze anos, a rabiscar alguma coisa que chamei de "poema". O título, Amor. Nessas alturas, me iniciara no complexo campo do amor e vivia minha primeira paixão, platônica, diga-se. Mas o suficiente para que tentasse transformar algo confuso em alguma coisa compreensível.

Meu pai que, naquela época, contava com anos de janela no ofício de escrever, e o fazia com maestria, foi a primeira pessoa a ler aqueles versos. Não demonstrou qualquer surpresa, mas sugeriu algumas mudanças, justificou-as, e deu uma força bacana e surgia o abre-alas de uma infinidade de outros trabalhos que escreveria, na efervescente fase juvenil.

Aos vinte anos, fazendo o curso de Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências de Letras em Patos de Minas, cidade para onde meu pai, Funcionário do IBGE, fora removido, conheci aquele que seria o tema dessa narrativa: O Professor Ricardo Marques, que lecionava Teoria da Literatura. Percebi e aproveitei, como oportunidade ímpar, para mostrar a ele, umas oitenta páginas escritas. Poemas em versos livres, a despeito das instruções de um velho professor que dissera: "esse trabalho é muito bom, mas precisa se aplicar na aprendizagem da rima e da métrica."

Sem rima e sem métrica, ali estavam os originais que foram para as mãos do experimentado professor e poeta. Demorou um tempo para mos entregar, mas, um dia, devolveu-me com observações que, em quantidade, pareciam superar, o que havia escrito. Comecei a ler suas marcações, mas, desisti: eram instruções demais, para quem esperava um simples elogio. Guardei os trabalhos por um bom tempo, para não desanimar.

Certo dia, voltei às páginas e comecei a olhar cada orientação, com cuidado e carinho e vi que fizera um trabalho sincero de lapidação e me indicava um caminho, pelo qual deveria enveredar dali por diante.

Após algumas décadas, fui procurada recentemente por jovem amigo, experimentado na música, nos instrumentos e sentimentos, que foi convocado pela poesia a escrever alguns versos. Prontifiquei-me imediatamente a auxiliá-lo e quem sabe, modestamente, mostrar-lhe algum caminho, saídas ou escapes.

Pela sua intimidade com sons e ritmos, aprende rápido e, após algumas orientações e correções, está-me saindo uma grande promessa, também nesse terreno e vai longe nesse campo, creio. Quando o oriento, vêm-me à mente, as lembranças do Professor que se foi, inclusive desta vida. E com muito boa vontade me disponho a trabalhar com a jovem promessa, porque é mister.

Ricardo deixou um acerco de inquestionável qualidade e, humildemente, o reverencio nesta página, com toda minha gratidão e respeito. Quando releio seu livro "Voo sem Pássaro", relembro, entre outros fatos, o Ricardo à frente da sala de aula, apaixonado pela literatura, levantando-se nos calcanhares, quando a comoção atingia seu peito, sem dó e piedade, e, discreto, estou certa, se derretia de emoção no seu íntimo.

E aí eu agradeço, com um breve e sincero, Deus lhe pague, Professor!

Texto de Dora Tavares, em 25 de março de 2015.