Vender sonhos ou falar de realidade??
Vender sonhos ou falar de realidade?
Jorge Linhaça
Não sei se algo dói mais a um poeta do que parar de escrever sobre sonhos e adentrar ao mundo real e suas incongruências, hipocrisias e dissimulações, porém, para mim, escrever é um exercício de responsabilidade que me compele a escancarar minhas verdades por menos repercussão que as mesmas possam ter. Não sou o típico poeta de versos românticos, idílicos ou oníricos, embora goste de trafegar pelo parnaso quando minh'alma assim o permite.
Já fui um escrevinhador voraz de sentimentos suaves e um brincante das palavras escritas.
Não sei se a maturidade chegou aos meus escritos ou se apenas minh'alma perdeu-se nos labirintos de minha indignação. Fato é que hoje me exige um grande esforço a composição poética mais leve, suave, descomprometida com as convulsões de uma sociedade cada vez mais descomprometida com o pensamento livre e cada vez mais avessa à busca das causas de inúmeros problemas que vem causando a si própria em virtude de omissões patentes e sensos comuns que, sob a égide de uma pretensa liberdade plena e irrestrita, soterram a vontade própria em favor de um discurso barato e alienante que reza que o bom é ser guiado pelo discurso da maioria, em detrimento de suas próprias concepções.
Render-me ao conformismo não é um traço de minha personalidade, assim como não era o de outros poetas como o grande Gregório de Mattos Guerra, que se valia de seus versos ferinos para criticar a sociedade de seu tempo, imersa nas mesmas convulsões que nos atingem nos dias de hoje.
O convencimento em massa através de frases exaustivamente repetidas e repercutidas através de todo o tipo de mídia, falada, escrita, televisiva e virtual, aliadas à dramaturgia e letras de músicas, entre outras coisas, estimula o comportamento de manada que vem proliferando e se multiplicando de geração em geração, amplificando, a cada uma delas essa reverberação.
A pouca atenção que se dá à história da sociedade e da humanidade, seja esta observada pelo ponto de vista religioso ou social, faz com que se perpetuem os ciclos de auto-destruição aos quais, desde sempre a sociedade sucumbiu em vários momentos.
Se, todos somos , ou deveríamos ser, iguais perante a lei, por mais falhas que estas apresentem em sua concepção e aplicabilidade, criar uma lei que contemple qualquer parcela específica da sociedade, reforça a desigualdade social, criando dispositivos que, em pouco tempo, resultarão numa inversão entre vítimas e agressores, dados os privilégios de uma lei própria permitindo que se alegue discriminação baseada em tais leis, ainda que as causas da discórdia sejam outras. Pode-se por exemplo, alegar não ter sido contratado por um empresa por pura discriminação, ainda que a escolha haja sido realizada por conta de critérios profissionais.
Em assim sendo, que se criem então, por exemplo, leis específicas para defender, por exemplo, a pessoa que possui escolaridade superior à requerida para um determinado cargo e é descartado do processo seletivo porque “ seu perfil está acima do que esperado” pelo empregador. Isso não é, também, uma forma de discriminação? E por aí se vai...uma lei para cada “minoria”...e em breve nenhuma lei será capaz de ser cumprida. Senão a lei do mais forte, ou mais rico.