Quem chora por último, revigora melhor.

“Quando se faz tudo o que se pode, e quando se sobe um degrau – mesmo que não tenha dado certo. Valeu a tentativa, valeu o esforço, o empenho, as dores e as não dores. Valeu o aperto de mão não dado, o riso entorpecido, o drama em si que nos tornamos. Valeu tudo, desde que o degrau seja um pouco a cima do que você se encontrava antes – mesmo que seja apenas por ter adquirido aprendizado. Valeu o coração quebrado, o choro, trata-se daquele tipo de experiência que se não tocar na ferida ela parece não doer por um tempo. É só não deixar revigorar. Reatar. Recomeçar. Renovar. Restaurar. É só deixar rolar superficialmente – até se enganar novamente ao achar que já tenha acabado. Eu senti que deveria parar quando percebi que o problema não se encontrava em nós, mas sim nas circunstâncias. Quando vi que você estava realmente longe demais – e digo assim do coração, do corpo e da alma. Estava longe dos meus olhos que só queriam ficar perto dos seus. Na retina. Tentei, tentamos. Quem chora por último, revigora melhor. E no momento percebo que não tem a ver comigo quando algo se acaba tranquilamente. Não é possível carregar um fardo nas costas e simplesmente você resolver o meu problema com um “eu acho que a gente para por aqui”, sem hesitar, sem nenhum draminha ou qualquer coisa que venha a ser o motivo do gosto de querer tentar outra vez. Uma das únicas coisas que sei hoje sobre as sobras, é que admiro o modo como ele acordava. Estava ciente que dali por diante aquele homem estaria decido a seguir sua vida sem olhar para trás, acordando sozinho. Os astrólogos diriam que é mais do que isso. Ciente de que eu encontraria apenas um segundo melhor, a regra é permanecer vivo e seguir em frente. Adulta. Estava ciente de que eu não estaria mais na palma das mãos de alguém. Que as mãos que afagam a partir do momento que se encontra um novo amor não seriam as mesmas que apedrejam, como as mãos dele. Eu estava ciente de que talvez as consequências durariam até hoje. Estava ciente de tudo, tudo o que se pode dizer à respeito dele e de tudo o que passaria a ser depois do término, inclusive de que não haveria mais segunda chance para provar daquele veneno que te corrói inteiro por dentro, deixando só a casca.”

Fernanda Wagner