Pão-duro
 
O restaurante até que era bem simpático e arrumadinho, mas protesto: R$60,00 por pessoa? Achei caro, caríssimo. Afinal era uma comida simples, de beira de estrada, para viajantes de passagem. Uma exploração da fome alheia de pobre gente comum, doidinha pra chegar a casa.

Mas eu ia falar que tava caro? Nunquinha! Principalmente porque estava com Geraldo e Valdelice, que vivem me acusando de ter escorpião no bolso, ser mão-fechada, pão-duro e outras coisinhas mais que querem dizer a mesma coisa: pessoa que não gosta de gastar!

Sou pão-duro? Nunquinha também! Já falei isso mais de mil vezes para aqueles dois cabeças-duras que ficam jogando o dinheirinho deles fora. Sou econômica, já expliquei! “Dinheiro na mão é vendaval, é vendaval...” já cantava Paulinho da Viola, nos idos de 70, no tema de Pecado Capital. Pura verdade! Trocado então, nem se fala! Uma notinha de cem trocada em miudinhos, vira vento num minuto. Quando se vê, não é mais cem... É sem mesmo!

Pois bem, a gente voltava de Valadares quando o estômago deu o grito “Tô com fome e não vou pra casa assim de jeito maneira! Podem parar na estrada e dar um jeito!”. A gente obedeceu, claro! Quem é louco de contrariar estômago vazio? O Geraldo como bom conhecedor das estradas deu a dica sobre a parada: “Fica ali na frente, nunca fui, mas dizem que é ótimo!”. Ânimo novo, começamos a nos preparar para o churrasquinho delicioso que, o Gê contou, serviam lá...

Uma lindeza de lugar! Mesinha de forro xadrez, jardins floridos, cascatinha de água natural, muita sombra e tranquilidade. Um oásis à beira da BR pra lá de movimentada. Ufa! Descanso depois de tantas horas morrendo de canseira num banco de carro! A gente tava merecendo tudo! Tudo mesmo, menos pagar R$60,00 por pessoa!

Sessenta! Um breve impacto, uma rápida troca de olhares, imediatamente desviada, e cada um pegou seu prato e seguiu para a farta mesa de comida mineira. Fiquei num feijãozinho tropeiro com arroz, um naquinho de carne assada e uma couve picadinha. Gê e Valdelice também não foram muito além. Afinal, a gente ainda tinha muiiiiiito chão pela frente. Sol da tarde, viagem bem apertada de calor! Comer com exagero, pra quê?

Comemos nossa frugal refeição, pagamos os míseros R$180,00 e fomos embora. Algumas semanas depois tive que escutar o Gê contando o episódio do nosso rico almoço:
— Um absurdo aqueles preços! Mas se a maior pão-duro do Planeta não reclamou, eu quem ia reclamar? Nunquinha!