Amar é pra quem pode.

Foi uma cerimônia simples, um discurso improvisado, pouquíssimas palavras e um soco no estômago: Eu não quero te ver. Tudo bem, tudo bem, porque a gente vai levando, não é? Tentando embrulhar tudo para jogar fora, mas sem dramas, o que é quase impossível, porque estive pisando numas poças disso esses tempos, nesses dias cinzas em cidade grande, mas não é possível embrulhar tudo, se entende o que eu estou querendo dizer. Quis espernear e então recebi ordens que mandavam eu parar, e então ali fiquei, quieta, quando na verdade queria segurar os braços dele, chacoalhar e pedir que ele deixasse eu sentir amor, mas isso não foi permitido. Vi nos olhos todo rancor, e parecia o rancor de uma vida, de uma vontade de sumiço, queria mesmo é que eu fosse embora, queria mesmo que eu me tornasse uma desconhecida, mas um coração que se alarga jamais volta ao seu tamanho original. Eu quis pôr mais umas reticências, que prolongassem não só uma oração, mas tudo aquilo que pudesse ser lido e sentido depois, mas ele não permitiu. Achei que o tinha comigo caminhando ao lado, mas me enganei. Foi só minha sombra mostrando que dessa vez eu vou seguindo sozinha novamente e me contando sem querer que o sol já está se pondo e então mais um dia se foi, e de novo, eu que fiquei.