Na confeitaria Colombo

         Nada de Ipanema nem de Leblon. 
         Gosto mesmo é de perambular pela Ouvidor, pela Gonçalves Dias, pela Uruguaiana, e por outras ruas estreitas do centro histórico do Rio de Janeiro.
         Vou ao Largo da Carioca, e, na Cinelândia, traço um delicioso filé com fritas, no Amarelinho, bebendo o chope mais gelado do Brasil. 
          Depois, dou um pulinho na Academia Brasileira de Letras, na esperança de encontrar bons livros, o que normalmente ocorre.

          Para encerrar o programa, vou a confeitaria Colombo.  Não apenas para tomar seu saboroso capucino. E nem para ensaiar uma dança, na sua histórica porta, como o fizeram, em outros tempos, Chiquinha Gonzaga e Virgínia Lane. (Podem cantar Ó abre álas e Sassaricando.)
           Vou à Colombo para ver de perto onde viveram, na Belle Époque, em gloriosa gandaia, poetas e escritores famosos. E cito alguns:  José do Patrocínio, Paula Ney, Emílio de Menezes, Coelho Neto e Olavo Bilac. E até gente mais séria, como Ruy Barbosa e Machado de Assis.

            Este, pois, tem sido o  itinerário que religiosamente cumpro quando estou  no Rio. E agora,  que por lá estive uns quinze dias, não foi diferente. 
            Segui a velha programação sob uma temperatura que oscilava entre 16 e 20 graus.  Muito frio para um nordestino; "péssimo para o carioca", confessou-me um motorista de taxi, olhando pro Pão de Açucar, encoberto pela forte neblina, que se derramava sobre a enseada de Botafogo.

           Depois do capucino, fui conhecer o pequeno museu que conta um pouco da história da famosa Colombo, fundada em 1894, por Manuel José Lebrão. 
Muito lembrado por causa deste slogan que é de sua lavra: "O freguês sempre tem razão."

           Numa das paredes do museu, repousa um quadro que estampa um soneto belíssimo do Emílio de Menezes, parece que escrito em 1900. Fotografei-o. 
           Na hora, imaginei que muitos dos meus poucos leitores gostariam, uns de recordá-lo, outros de conhecê-lo. Por isso, não hesito em aqui transcrevê-lo. 

                      "Hino à dentada

               Lebrão! Tu sabes que a Confeitaria
               Colombo é verdadeira sucursal
               Da nossa mui douta Academia
               Mas sem cheiro de empréstimo oficial.

               Cerca-te sempre a grande simpatia
               De todo literato honesto e leal,
               E tu te vais tornando dia a dia
               O mecenas de todo esse pessoal!

               Nisto mostras que és homem de talento
               Que não cuidas somente de pastéis
               Nem de lucro tirar cento por cento.

               Atende, pois, a um dos amigos fiéis,
               Que está passando por um mau momento
               E anda doido a cavar trinta mil-réis.

                                     Emílio "pronto da Silva"

           Os intelectuais que, naquele tempo, freqüentavam a Colombo, viviam, quase sempre, numa pior, no quesito  finanças.  E quando se encontravam nessa condição,  diziam-se "pronto da Silva".  Recorriam, então, ao amigo Lebrão. E o dono da confeitaria lhes emprestava alguns vinténs.
 
            No soneto Hino à dentada, é o impagável Emilio de Menezes, que atravessando um momento de dificuldade, vai ao Lebrão, e, em versos, pede-lhe trinta mil-réis. 
           Era gostoso o Rio de Janeiro, no início do século passado!
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 07/06/2007
Reeditado em 01/03/2008
Código do texto: T517975