TÁBUA DE PIRULITO
TÁBUA DE PIRULITO
Estávamos parados no semáforo, eu e meu marido. Íamos buscar nossos filhos na escola. Faltavam 10 min. para as 13h00min. Na calçada do meu lado direito “caminhava” uma jovem. Bonita e bem vestida, usava um mega par de óculos estilo Jackie Kennedy, bolsa enorme, que eu poderia jurar ser uma Carmen Steffens, e um belo par de saltos altíssimos. Logo meu marido percebeu (o que era nítido a quem a avistasse) o grande esforço que a moça fazia ao caminhar pelo passeio, e disse-me:
- Se ela não tiver cuidado, vai acabar caindo.
O passeio público estava deteriorado, desnivelado, cheio de buracos e pedras soltas. Pois bem, imaginem esse coquetel: Saltos altos e calçada esburacada, feito tábua de pirulito. Definitivamente, ela enfrentava um tremendo desafio, chegar sã e salva ao seu destino, já que cada passo representava o perigo eminente de um tombo. Bem, não sei o que teria sido pior, o previsível tombo ou o inesperado abalroamento de sua cabeça com o galho da árvore que achou de “atravessar” o seu caminho. Ela estava tão distraída pendendo de um lado para o outro, com os olhos fixos no chão, tentando driblas os percalços dos saltos, que se esqueceu de olhar para os obstáculos à sua frente. Sorte dela não ter levado um tombo depois do encontro, nada furtivo, com o galho, nada cortês.
Uiii! Senti a dor por ela. Mas como não poderia ser diferente, a fina moça fez de conta que nada tinha acontecido, continuou com seus passos cambaleantes. Pude ver pelo retrovisor quando ela entrou no seu carro, e já segura de todo aquele atropelamento, passou a mão na testa.
Na teoria, as calçadas são feitas para darem segurança e conforto ao pedestre. Assegurando o nosso direito de ir e vir. Não foi bem isso que eu e meu marido presenciamos. O fato é que as calçadas deveriam ser padronizadas; a fiscalização deveria ser mais atuante, intimando os proprietários a adequarem-se às normas vigentes; e a prefeitura deveria nomear mais mulheres para a pasta da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos (falta sensibilidade feminina numa pasta machista - calçadas com sapatos sociais, retos e de bicos longos, tênis e chinelos de couro).
Afinal, não são só os idosos, crianças e pessoas com deficiência que merecem atenção especial, segurança e acesso livre nas calçadas. Não são só eles que estão suscetíveis às quedas e fraturas. Nós, mulheres de saltos altos, merecemos devida atenção do poder público. Somos nós que embelezamos as vias públicas com nosso charme e elegância. Ou seja, somos patrimônio da cidade, cartão de visita para os que passam pela nossa urbe. Agora, o que não dá é cansar nossa beleza com exercícios de sobrevivência sobre calçadas pedregosas e incaminháveis , que deveriam servir de passarela.
Fica a dica!
Flávia Arruda 22/03/2015