A MÁFIA DA CRISE
Os mafiosos estavam reunidos para desenhar a crise. Tentavam depor um governo estabelecido por meio democrático, que andava criando calos no pé da elite global e territorial com projetos desagradáveis aos negócios dessas elites. O que eles odiavam no tal governo estabelecido era o fato de o trabalhador ser representado no poder e o de as classes mais debastadas estarem a ganhar espaço na sociedade. A diferença entre pobres e ricos diminuía e isso significava necessidade de reavaliação do sistema de castas e alteração no status quo de cada um.
Já haviam tentado de tudo: Corromper o voto da população com campanhas eleitorais engenhosas de políticos que eles financiavam, colocar a Seleção Brasileira para perder a Copa em casa e ainda tomando de 7 a 1 para a Alemanha na semi-final, inventar nos canais de comunicação deles escândalos envolvendo o Governo e, com isso, causar pressão psicológica no povo, o fazendo pensar que errou no voto e sucumbir a qualquer golpe por causa do arrependimento, desgraçar a vida do trabalhador, atacando o sistema de transporte e tornando-o tumultuado e desprezível. Contaram com a facção internacional da organização para aumentar o preço do barril de petróleo e forjar uma crise no setor energético de combustíveis. Fizeram disparar a inflação, criando instabilidades na Bolsa de Valores sob alegação de insegurança dos investidores no mercado brasileiro. E até greves – de banqueiro, já viu isso? – teve para amedrontar o eleitor e obrigá-lo a fazer besteira. Muita coisa eles já haviam tentado. Já estavam até exaustos.
Porém, eram burgueses os filhos de uma mãe, mas eram brasileiros, a maioria. E por ser brasileiros eles não desistiam nunca. Nisso, eles continuaram a se reunir em seus locais secretos pelo menos uma vez por semana para tentar outros métodos, novos ou antigos, para pressionar o povo a destituir o governo que os aborreciam, o qual o povo elegeu democraticamente. Só cabia ao povo fazê-lo. Quem coloca é quem tira em uma democracia. Não dava para esse grupo ordinário simplesmente ordenar seus militares a entrar em tanques, invadir o Congresso e prender todo mundo que fosse da Esquerda que encontrassem lá. Esse recurso, que essa mesma elite usou em 1964, eles guardavam para o último caso.
Numa dessas reuniões, surgiu a ideia de criar uma onda de desemprego. O grupo, cheio de magnatas donos ou executivos de grandes corporações dos setores comercial, industrial e de serviços, nacionais e internacionais, combinou de começar a demitir em massa funcionários de segamentos diversos. Falariam que a crise financeira estava afetando as empresas, que o preço de operação alterara muito para maior, que a especulação imobiliária estava muito grande e obrigando empresas a deixar a locação. E por aí vai. E sem esquecer de frisar na mídia deles – que é a prestigiada e visível para a população – que a culpa disso tudo era do governo escolhido. Diziam eles em seus telejornais, jornais, programas de rádio que as equipes econômicas dos últimos 16 anos estavam sendo muito ineficientes e precisava haver mudança. Eles se apropriaram da palavra "mudança" como se eles – privatizadores de empresas públicas – nunca tivessem estado no poder antes e como se, diferente dos últimos oito anos que eles estiveram no poder, fossem fazer um governo para o povo e não para eles.
A ideia surgiu, provavelmente, por causa de um vacilo que o Governo Federal deu. A presidenta encheu os ministérios com políticos conservadores para aquietar seus opositores. Nisso, a primeira coisa que trataram de por em prática foi uma mudança no Seguro Desemprego. Passou para um ano e seis meses o prazo de contribuição para que o trabalhador demitido sem justa causa pudesse fazer uso do benefício por cinco meses. Antes, bastavam seis meses e quem quisesse ficar mamando nas tetas dos que gostam de trabalhar já poderia usar o Cartão Cidadão para tirar pelo menos um salário mínimo por mês. Quem sanciona as leis é o presidente da república, então, todos os insatisfeitos (que com a ajuda da mídia seriam bastante) iriam culpar o presidente e fazer imagem negativa dele. Neste país onde a predileção por ficar à toa é muito grande, iriam na verdade é odiar o sancionador e ficar bastante propensos à colocar no lugar dele qualquer um que viesse a dizer que faria voltar as coisas como eram antes. Não iriam nem analisar se o prometedor teria mesmo poder para cumprir a promessa.
E os golpistas ainda teriam em seu favor a questão do desemprego em massa que preparavam para desesperar a população: A quantidade de pessoas que ficaria desempregada sem ter direito de pegar o Seguro não estaria no Gibi. Quem sabe os que pegariam, somados dessem um estouro de caixa que impediria o pagamento do benefício pelo Governo. Daí a mídia entraria em cena para fazer novos ataques à imagem da situação. Usariam os mesmos argumentos que usaram quando ninguém estava conseguindo acessar o site do FIES para fazer recadastro e correndo o risco de perder o financiamento: "O Governo não cumpre com seus compromissos". É fácil demais enganar a população, pois ela não sabe quem tem acesso ou quem está no controle de tudo e com isso tem também toda liberdade para articular, sem aparecer e se passando por outros ou pelo Governo, golpes que mexem com a economia ou com os afazeres da sociedade e colocá-los em prática.
No plano de demissões, eles se livrariam de trabalhadores que estavam dando muita dor de cabeça para os patrões para conseguirem ser mandado embora e os demais eles readmitiriam logo após o objetivo da deposição presidencial alcançado. Colocariam a mídia para noticiar que o mercado respondeu com otimismo à mudança governamental e que seria essa a razão da volta dos empregos. Assim como fazem com o preço dos produtos para justificar a volta do controle sobre a inflação. Recentemente usaram o truque ao dizer que a Bolsa reagiu generosamente quando alteraram a presidência da Petrobrás. Ò, gente, para que uma economia, que é uma ciência natural, e exata ainda por cima, comporte-se com base em temperamentos humanos só pode ter humano manipulando, né? Se o dólar aumentar e o povo reagir boicotando a compra de produtos, tudo bem ele ser forçado a baixar, mas dizer que o barril de petróleo quedou de preço só porque trocou o nome do presidente de uma empresa do segmento não é algo que se engula assim tão facilmente. Se o povo boicotasse a compra de combustível eu duvido que não quedaria o preço da gasolina trocando ou não o presidente da Petrobras.
Conclusão: "Quem não chora não mama, é verdade, mas quem boicota impede os chorões de mamar".