Classificados

Os últimos serão os desclassificados.

O ato de classificar é uma constante em nossa vida. Desde nosso nascimento até à morte estamos inseridos em uma infinidade de classificações com suas intermináveis ramificações. Aliás, vida e morte são extremos classificatórios de um breve espaço de tempo denominado vida.

Ao nascer recebemos a classificação de recém-nascidos e, assim, começamos nossa trajetória no mundo classificado a nossa volta. Naquela época, não sabíamos, mas estávamos entre os animais mamíferos, primatas, classes à parte do grande reino animal de então. Hoje, esta classificação já foi modificada, como sabemos.

Dependendo de nossa herança genética e guardadas as diversas diferenciações, fomos, então, classificados como branco, negro ou pardo – vale dizer, mestiço. E as classificações não pararam ai. Com toda certeza, nascemos em uma família de classe média, baixa ou alta. Isso para não falar de nosso endereço, após termos saído do hospital ou das mãos de uma parteira. Lá estávamos nós novamente às voltas com nossas eternas classificações: passamos a residir em um número, em uma rua, em um bairro, de uma determinada cidade com todos os “et coetera’s”a que tínhamos direito

Ao iniciarmos nossos primeiros passos na escola, já no ensino fundamental, nossa herança classificatória não nos abandonou, lá, então, fomos definitivamente inseridos neste mundo classificado dos humanos. Ainda na escola nos deparamos com as mais complexas formas de classificação e, pela primeira vez, nos demos conta disso. Mas, para nossa surpresa, descobrimos que isso nos ajuda e muito. O mundo dos classificados facilita nossas vidas a tal ponto que descobrimos também que não podemos mais viver sem ele. Na escola e em toda a nossa vida fora dela, percebemos que as diversas formas de classificação das coisas nos ajudam na organização e na aprendizagem como um todo.

É interessante notar que até mesmo as palavras são por nós classificadas. É... ainda na escola mesmo, nós aprendemos que elas, as palavras, também estão organizadas em classes. As classes de palavras: substantivo, artigo, numeral, pronome, adjetivo, verbo, conjunção, preposição, advérbio e interjeição. E mais, estas classes dividem-se em outras subclasses.

Assim, aqui estamos nós, “até que a morte nos separe”. Ou melhor: até que a morte, finalmente, nos classifique como finados. Então, nosso endereço poderá ser: L 21, Q 143, Cemitério do Bengüi. Essa mania de classificação não nos abandona mesmo!

Mas, afinal por que os anúncios dos jornais são chamados de classificados?

Domingos Mazola

Domingos Mazola
Enviado por Domingos Mazola em 21/03/2015
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