imagem: Ana Bailune


CONSTRUÇÕES


O amor é uma casa cuja construção jamais termina - Ana Bailune
 
 
O sonho da maioria das pessoas do mundo todo, é ter uma casa; às vezes, as pessoas as compram já prontinhas para morar, outras vezes precisam fazer algumas reformas. Há também os que preferem construí-las: plantar os alicerces, escolher cada detalhe. Cada um faz como quer e pode. Outros preferem alugar - ou o fazem porque ainda não tem condições de construir ou comprar. Mesmo assim, uma casa alugada é um lar como outro qualquer.
 
A gente faz de tudo para deixar as nossas casas com a nossa cara, e também com a cara das demais pessoas que vivem nelas. Passamos um bom tempo escolhendo móveis, ajeitando tudo, plantando um jardim, pintando-as com as nossas cores favoritas. Até que, finalmente, a casa fica pronta! Entramos nelas pela primeira vez como moradores, e estamos tão felizes e realizados, que queremos dividir esta alegria com as demais pessoas. Fazemos a nossa "open house," que é como a inauguração da nossa casa. Neste período, precisamos estar preparados para ouvir muitas críticas de pessoas menos sensíveis à importância que a casa tem na vida de alguém... mas faz parte!
 
Algum tempo depois, a gente percebe que a casa precisa de um pequeno conserto... talvez uma telha quebrada, mofo na parede da sala, uma planta que morreu no jardim, a tinta que descascou... e enquanto vivermos, passaremos por estas reformas (grandes ou pequenas). 
 
A casa vai mudando. Pode ser que a gente perceba que aquelas cores que antes nos encantaram, já não surtem o mesmo efeito sobre nós. Hora de trocar. Talvez aproveitemos para mudar a decoração, ou quem sabe, os móveis de lugar. Lembro que minha mãe adorava mudar os móveis de lugar o tempo todo, e era estranho chegar em casa e encontrar tudo diferente. Mas acostumei-me assim, e hoje, peguei a mania dela: de vez em quando, troco (quase) tudo de lugar.
 
E a gente também pode mudar de casa, seja por escolha ou necessidade. Quando estamos jovens, queremos uma casa maior e mais confortável, e na velhice, uma casa menor pode ser mais adequada. 
 
Um dia, a gente vai embora, e as casas ficam. E ficam nelas as lembranças daquilo que a gente foi um dia. Alguém vem e acha as nossas fotografias. Dividem nossa mobília. Leem nossos diários e poemas. Doam nossas roupas, sapatos e livros. A casa esvazia-se de nós. Outros podem vir a ocupá-la, escrevendo novas histórias em suas paredes. 
 
Para mim, a casa é um elemento vivo. Se ficarmos em silêncio dentro dela, podemos escutar muitas histórias que nos são contadas através de um relógio tiquetaqueando no silêncio, da madeira estalando, da água passando nos canos, do vento soprando entre as gretas, das vidraças sendo bicadas por passarinhos (aqui acontece bastante; hoje acordei assim). 
 
Pensando em tudo isso, escrevi a frase lá em cima: "O amor é uma casa cuja construção jamais termina."Mas eu me esqueci de dizer que nós também somos assim: nascemos incompletos e morremos incompletos. Acrescentamos histórias, pessoas, dores, risos, alegrias, lições de vida. Fazemos muitas perguntas. Obtemos pouquíssimas respostas. Demolimos e reconstruímos partes de nós e de nossas vidas. Trocamos nossas cores conforme o nosso estado de espírito. Mudamo-nos. 
 
Não entendo como pode ter gente que ache a vida monótona. Acho que é apenas uma questão de falta de observação...

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De Tony Bahia (acesse o link para visitá-lo):
 

Os escritos de Ana Bailune
São agulhadas nas veias
 Emaranhando-se nas teias
Das casas que não são nossas.
 Valha-me Nossa Senhora
Por quem precisa de um teto
Para quem precisa dormir
Numa cama quentinha.
Sem ferrugem nas portas
Com janelas abertas
 Um travesseiro e cobertor
 Para aquecer quando frio
 Apenas um ventilador
 Para as noites de calor
 Inferno sombrio.

Muito obrigada, Tony!



 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 21/03/2015
Reeditado em 28/12/2015
Código do texto: T5177588
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