NEVA NA PRIMAVERA
Perto do meio dia a neve começou a cair, conforme previsão da metereologia. Rente a vidraça fiquei admirando o lindo balé dos flocos branquinhos. E pensei: o inverno não está querendo ceder a vez para a primavera, que pelo calendário deveria começar hoje.
Senti vontade de tomar um chá quentinho. Fui até a cozinha, e ao pegar uma xícara no armário, ele me olhou. Um olhar insistente, daqueles que não conseguimos nos livrar com facilidade.
Não resisti e o aconcheguei em minhas mãos, senti que ele estava carente de afeto, saudoso do tempo em que era muito útil.
Como estava sozinha, pude conversar com ele. Sem receio de parecer alucinada. Sentei-me, e o coloquei à minha frente. E me dispus a ouví-lo telepaticamente. A cada episódio que ele me contava, a cumplicidade, o amor e uma dedicação sem igual eram descritos.
Ele me pediu desculpas pelas lágrimas que arrancou de minha alma, pelas lembranças, alegres, tristes, que cada cena desenhada por ele despertava em meu coração.
Quando por fim, ele sentiu que havia contado o bastante e desafogado de sua alma toda energia que represava, ele silenciou.
Sobre mim, lançou novamente aquele olhar insistente e me perguntou: Por quê, você me trouxe para tão distante daquela vila pequena de chão de terra? Por quê vim parar aqui em Nova Iorque?
Eu respondi: o trouxe, para não ficar longe de você, de suas histórias que são também minhas. Para usufruir de suas energias saturadas de amor, que foram depositadas, por cada mão que te tocou, e pelas quais você se deixou tocar.
Ele respondeu-me: pois, quando você regressar, não me deixe aqui sozinho, preciso muito de seu olhar atento, ele conserva viva a minha memória.
Eu, então, lhe disse: Quando toco em você, sinto um pouco das mãos de cada um daqueles que se foram e a quem tanto amo.
Em seguida, o guardei com carinho. Antes de fechar o armário, ainda o olhei mais uma vez. Agora o açucareiro azul, que foi um dia de meus avós, me sorria feliz!
(Imagem: Lenapena: Esse açucareiro está na família desde 1926 - Foi um presente ganho no casamento de meus avós)
Perto do meio dia a neve começou a cair, conforme previsão da metereologia. Rente a vidraça fiquei admirando o lindo balé dos flocos branquinhos. E pensei: o inverno não está querendo ceder a vez para a primavera, que pelo calendário deveria começar hoje.
Senti vontade de tomar um chá quentinho. Fui até a cozinha, e ao pegar uma xícara no armário, ele me olhou. Um olhar insistente, daqueles que não conseguimos nos livrar com facilidade.
Não resisti e o aconcheguei em minhas mãos, senti que ele estava carente de afeto, saudoso do tempo em que era muito útil.
Como estava sozinha, pude conversar com ele. Sem receio de parecer alucinada. Sentei-me, e o coloquei à minha frente. E me dispus a ouví-lo telepaticamente. A cada episódio que ele me contava, a cumplicidade, o amor e uma dedicação sem igual eram descritos.
Ele me pediu desculpas pelas lágrimas que arrancou de minha alma, pelas lembranças, alegres, tristes, que cada cena desenhada por ele despertava em meu coração.
Quando por fim, ele sentiu que havia contado o bastante e desafogado de sua alma toda energia que represava, ele silenciou.
Sobre mim, lançou novamente aquele olhar insistente e me perguntou: Por quê, você me trouxe para tão distante daquela vila pequena de chão de terra? Por quê vim parar aqui em Nova Iorque?
Eu respondi: o trouxe, para não ficar longe de você, de suas histórias que são também minhas. Para usufruir de suas energias saturadas de amor, que foram depositadas, por cada mão que te tocou, e pelas quais você se deixou tocar.
Ele respondeu-me: pois, quando você regressar, não me deixe aqui sozinho, preciso muito de seu olhar atento, ele conserva viva a minha memória.
Eu, então, lhe disse: Quando toco em você, sinto um pouco das mãos de cada um daqueles que se foram e a quem tanto amo.
Em seguida, o guardei com carinho. Antes de fechar o armário, ainda o olhei mais uma vez. Agora o açucareiro azul, que foi um dia de meus avós, me sorria feliz!
(Imagem: Lenapena: Esse açucareiro está na família desde 1926 - Foi um presente ganho no casamento de meus avós)