O início escolar.
Quando a minha mãe ía buscar o meu irmão na escola, eu a acompanhava pela mão, carregando o meu gatinho preto de "peluche", o "Pirulí", que não largava por nada. Não lhe dava trabalho, nunca fui manhoso, ao contrário, e me distraía com tudo na rua, pessoas, animais, carros , bicicletas, vitrines da rua...sempre "viajando" em observações. Era uma escola marianista, muito antiga , datada do século XVIII ( San Felipe Neri) , escura, com o pé direito alto, colunas em arcos contornavam o enorme pátio azulejado, e o salão de espera como anti-sala, rodeado de bancos marrons , para a nossa espera . Lá nos sentávamos aguardando pacientemente o sino da saída, e as crianças do primeiro ano.
Na "Espanha" o ano letivo se inicia após as férias de verão, ou seja , no início de agosto, e eu contava apenas com quatro anos, e teria que esperar a pré escola para o ano seguinte, mas todos os dias pedia para o meu pai que me colocasse na escola, porque eu também queria ter uma mala e ter amigos , e sair por aquela enorme porta de carvalho para que a minha mãe também me levasse para casa , junto com o meu irmão, ficava encantado com tudo aquilo.
O meu pai pacientemente me dizia; _ Pepito, você tem quatro anos, e ainda não pode ,( e me mostrava os quatro dedos da mão),só quando tiver uma " mano llena", e me mostrava a mão cheia , com os cinco dedos...Mas a minha luta nunca terminava, e continuava lhe pedindo todos os dias, e meus pais achavam graça, até que meu pai me disse ; - "Bueno", quando o diretor te perguntar quantos "años tiene", você lhe mostra a mão cheia, certo ? Cinco ! E me perguntava , para ensaiar ; _ "Quantos años tienes? " E eu lhe respondia ,com a mão aberta , cinco ! "Tengo cinco", e assim foi...dia após dia...
Um certo dia ele resolveu investir no treino e na minha desenvoltura, pois eu era bastante solto para a minha idade. Vamos nos situar no tempo e no espaço, falamos dos anos 50, onde as coisas eram um pouco diferente das de hoje. Sentados à frente do diretor, eu a direita do meu pai, os olhava conversar sem entender muito bem, as vezes me fazia algumas perguntas , que eu respondia alegremente, era bem falante, até que em certo momento, esse senhor me perguntou; _ E então menino, quantos anos você tem ? No que me aproximei , olhando bem para seus óculos, e lhe disse ; Eu tenho quatro anos, mas o meu pai me disse que para o senhor eu tenho uma mão cheia, cinco ! Meu pai quase caiu da cadeira ! os dois se olharam, e cairam na risada . Pronto , o gelo estava quebrado, e acabei entrando antes do tempo, para a minha total alegria !
Meu pai se lembraria sempre deste episódio, e quando o tema escolar vinha a tona, ele o contava com alegria, e ria sempre a mesa, parecia voltar no tempo...